18 janeiro 2008

Sem Pressa

As reflexões começam a me mostrar uma luz no fim do túnel. Preciso me preocupar menos com os outros e me ocupar mais de mim.

Chegar aonde cheguei me exigiu muito esforço, muito empenho. Mas só agora consegui enxergar que a força de vontade que eu almejava eu sempre tive, só não via. Acho que obstinação em atingir um objetivo era tanta que acabei me cegando. Só que eu já estava em alta velocidade quando atingi o objetivo e não vi que era hora de parar e traçar novas diretrizes. Deixei de ver as coisas com clareza. E segui em frente, como um trator, achando que podia transpor sozinha todas as barreiras, todos os obstáculos, que ninguém precisaria se preocupar comigo, sem sequer saber qual era a melhor direção. Hoje eu vejo que aquele não era um bom momento para ser trator. Aliás, nunca é, já que tratores passam por cima de tudo e às vezes é melhor contornar. Aquele momento era o de andar de bicicleta, de rever o que já tinha vivido pra decidir o que queria viver. Era tempo de olhar em volta, com calma, sem pressa.

Demorei quase seis anos pra perceber que estava em velocidade alta demais. Minhas estradas não estavam preparadas pra isso. Acho que agora estão, só que não quero mais andar rápido, não quero deixar de ver, ouvir, sentir e perceber coisas importantes, pessoas importantes. Vou andar de bicicleta pela ciclovia pra sentir o vento no rosto, de braços abertos. Vou pisar a terra e a areia molhada, descalça. Vou mergulhar no mar, entrar embaixo de uma cachoeira. Vou me expor ao sol, me aquecer. Vou me revigorar. Chega de pressa. Chega de correria. Há muito tempo pela frente.

Ainda não decidi qual rumo tomar, embora já tenha alguma idéia do novo objetivo a ser buscado. Mas não vou pensar nisso agora. Vou me dar ao luxo de passar um fim de semana leve, fazendo de conta que não há caminhos pra voltar, novas estradas a percorrer, objetivos a mudar. Vou me dar ao luxo de voltar a ser o que eu sempre fui: Hardt, mas não hard.


Larissa está mais leve, embora a angústia não tenha ido embora. Sabe que isso vai demorar a acontecer, mas não está mais com pressa.

17 janeiro 2008

Sobre Homens e Cachorros


Cachorros são essencialmente bichos ciumentos. Especialmente aqueles mimados, que dormem na cama com a gente. Mas eles têm uma certa razão em querer exclusividade: são amigos leais, incondicionalmente. O cachorro sabe quando você está feliz, quando você está triste, quando você quer ficar sozinho, quando alguma coisa te alegrou ou te magoou. E ele fica ali, do seu lado, simplesmente sendo seu amigo. Sabe também aqueles dias em que você está a ponto de explodir? O pneu furado na garagem, ás seis da manhã, nenhuma alma viva pra te ajudar. Atrasada no trabalho, ao chegar constata que o chefe resolveu conferir os relatórios na primeira hora da manhã, justamente quando você estava trocando pneu. No almoço, macarrão à bolonhesa e você está de dieta. Obviamente cai molho na sua blusa de seda branca e a tarde parece que não vai acabar nunca. De volta pra casa, um engarrafamento de tirar o ânimo. Quando você chega em casa achando que o mundo é uma bosta, lá está seu cachorro fazendo a maior festa simplesmente porque você voltou pra casa. Você esquece até da blusa de seda que foi pro brejo. Decididamente, cachorros têm razão em querer exclusividade.

Homens são, em tese, excepcionalmente ciumentos. Não precisam ser mimados, mas os que dormem na cama da gente acabam ficando. Mimados e ciumentos. Afinal, não é com qualquer um que a gente dorme (tampouco que a gente mima). O homem sabe quando você está feliz, nem sempre sabe quando você está triste (raramente sabe o motivo), mas reconhece sua TPM à distância. E se mantém à distância. Distância de segurança – diz – pra manter o relacionamento equilibrado. São só uns dias por mês, tente ser compreensiva, já que fica tão irrascível nestes dias (e fico mesmo). O homem tem outra vantagem em relação ao cachorro: ele troca pneus. E ainda fica feliz achando que você não daria conta, sendo que você sabe que só não trocou sozinha porque não estava a fim de quebrar as unhas e sujar a roupa. Só falta abanar o rabo quando você diz: obrigada, meu anjo; não sei o que faria se você não tivesse aparecido (cara de princesa salva das garras do monstro). E quando seu chefe te dá uma bronca gratuita, seu salto quebra no meio do expediente e o trânsito está um caos mesmo você tendo ficado trabalhando até mais tarde e chega em casa querendo silencio e um banho demorado, lá está o homem sorrindo angelicalmente e perguntando se agora você tem duas TPM´s por mês depois de você contar o dia infernal que teve. Mas – reconheço – o (meu) homem também têm razão em querer exclusividade. Ele também é um amigo, ele também é leal. Ele é meu companheiro.

Homens e cachorros são, ambos, extremamente ciumentos na realidade. Principalmente entre si quando há uma dona no meio. Um costuma ter ciúmes do outro e chegam, um, consciente (o cachorro), e outro inconscientemente (o homem) a disputar a sua atenção. Calma, meus amores, tem coração aqui pra todo mundo, sorrio. E acabaram ficando grandes amigos, meus dois amores.

Um dia meu cachorro adoeceu e ficou internado. O homem quase adoeceu também, pois havia se tornado um amigo do meu cachorro. Foram dias de sofrimento e que acabaram hoje. Pelo menos pra mim, porque pro homem foi um dia sofrido. Saindo do hospital veterinário, o cachorro, ainda um pouco fraquinho, correu pro meu abraço. Colocou as patas nos meus ombros que já estavam na altura dele e me lambeu o rosto, como quem diz: eu sabia que você não tinha me abandonado. Enquanto o veterinário me explicava como continuar em casa o tratamento, o cachorro permaneceu ao meu lado, não tirou os olhos de mim. Mas o homem se afastou. Sentou solitário no sofá e ficou amuado. E eu era só ouvidos pro veterinário e olhos e carinhos pro meu cachorro, que retribuía, abanando o rabo e arfando, feliz. E eu também estava feliz, meu companheiro fiel ia voltar pra casa de onde ele nunca deveria ter saído. Falei alegre pro homem: ele vai pra casa com a gente hoje! Foi quando percebi que o homem estava cabisbaixo, sozinho, calado. Foi quando percebi que o homem estava morrendo de ciúmes. Perguntei por que ele estava triste e ele deu de ombros: não... me abraçou e me beijou, olhando sobre meus ombros. Só então é que eu fui perceber que o homem não estava com ciúmes de mim, ele estava com ciúmes do nosso cachorro!!

Ponto pro homem. Ponto pro cachorro. Feliz de mim!!

Larissa sempre amou e sempre vai amar homens e cachorros; acha que ciúme não é bom, nem mau, é um sentimento. Mas que tem que ser mantido num nível saudável até quando o ciumento é o seu cachorro.