14 março 2010

A Viagem Que Eu Não Fiz



Depois de anos e anos sonhando em recolocar minhas patinhas do lado de fora da fronteira, finalmente consegui me planejar. Tinha o dinheiro, o roteiro, o tempo, saúde e companhia. O destino estava traçado: Turquia e Tailândia. Férias memoráveis seriam aquelas. Quase um mês viajando, sete dias na Turquia e o restante na Tailândia revivendo coisas que hoje me parecem ser parte de um sonho bom.

Sabe quando você pesquisa preços, reserva as passagens, procura informações sobre os lugares imperdíveis, olha hotéis, calcula quanto será preciso pra viajar de forma a aproveitar tudo, absolutamente tudo? Foi o que eu fiz. Fiquei de setembro do ano passado até dezembro sonhando com a viagem, que seria dia 27 de janeiro, com volta prevista para 25 de março. Carnaval? Foda-se! Já aproveitei tantos! E esta viagem estava sendo um sonho. Eu estava tão feliz, mas tão feliz que não conseguia expressar minha alegria.

Pensava no país novo que eu ia conhecer, a Turquia, Constantinopla, berço da civilização! Sonhei com os monumentos, com os mercados, os palácios... Pensei nas mil fotos que eu tiraria e que as enviaria por email pra uma amiga ir montando um álbum bacana pra mim. Assim eu chegaria e não haveria riscos daquelas fotos ficarem apenas no virtual. Pensava em rever minha família, meus amigos tailandeses. Visitar os lugares que haviam feito parte da minha vida. Cheguei a fazer a viagem em sonhos várias vezes.

De pensar no tanto que eu ia chorar de emoção ao colocar meus pés novamente na Tailândia eu chorei de verdade. Pensava na surpresa que faria pra minha família. Evidentemente com a ajuda da minha prima. Nossa, seria bom demais.

Mas aí, várias coisas aconteceram e transformaram meu sonho em pesadelo. Fase ruim no trabalho, insegurança e outras coisas que prefiro não mencionar. Fato é que minha sonhada viagem foi pro espaço antes mesmo de eu pagar as passagens... ninguém, absolutamente ninguém imagina o tanto que eu chorei. Porque eu sabia que se aquela viagem fosse um plano conjunto, ela não teria ido por água abaixo. Mas aí eu descobri que era um sonho só meu.

Tem gente que não se importa de ir pro mesmo lugar a vida toda. Tem gente que não se importa de viver a mesma rotina a vida toda. Tem gente que não quer conhecer o novo. E eu me casei com alguém assim... só que eu nunca tinha sentido isto na pele, ardendo, queimando. Isto nunca tinha me incomodado, muito menos machucado. Pois é, a inércia também pode machucar.

Muita coisa andou acontecendo na minha vida nos últimos meses. Alguns acontecimentos estão me fazendo repensar a minha vida. Evidentemente tive que passar por muita terapia pra chegar à conclusão que há algo mais que podre no Reino da Dinamarca. E assim que eu puder, vou voltar. Acho que vai me dar mais força, mais segurança pra tomar as rédeas da minha vida. E quando eu digo me dar mais segurança, é isto mesmo que eu quero dizer. Nada a ver com certezas. Já desisti de ter certezas nesta vida. Acho que este dom não me foi dado propositalmente.

Enfim, minha viagem ter ido pro brejo teve lá seu lado bom. Trouxe reflexão, abriu os olhos. É preciso estar atenta pra não perder a oportunidade de fazer grandes e pequenas viagens, mesmo que seja sozinha. Senão, corre-se o risco de perder muita coisa, deixar de viver muitos momentos e isto sim é um pesadelo. Sigo em frente, apesar de não ter viajado. Tenho a tranqüilidade de que não perdi a viagem, mas apenas um pequeno trecho dela. Afinal, a vida da gente sim é nossa grande viagem.

Larissa tem certeza de que nestes últimos tempos apenas deu uma pausa na sua grande viagem.