Conhecemo-nos na infância mas acabamos perdendo contato com o passar do tempo. Encontramo-nos novamente na faculdade. E voltamos a ser amigas. São histórias demais pra contar. Foram anos intensos e divertidos aqueles. Acabou a faculdade, mas não acabou a amizade. Adultas, não deixamos a amizade se diluir no tempo.
11 abril 2008
Mais Duas Meninas
As Duas Meninas
Tinham quatorze anos aquelas duas meninas. Uma era mais esperta, a outra, mais bobinha. Mas eram ambas adolescentes e a adolescência é uma fase de formação, de amadurecimento, e, claro, de muitas dúvidas, dilemas, angústias, tormentos. É a época em que se vive os extremos: a vida é maravilhosa ou a vida é um completo caos. Ficaram na mesma turma do colégio e acabaram ficando amigas. Muito amigas.
Acabou o ano e as meninas se separaram. Era uma escola técnica e cada uma escolheu um curso. Cada uma foi pra uma sala diferente. Engana-se quem pensa que houve também a separação da amizade. Estar em cursos diferentes evidenciou diferenças, mas não as distanciou. Houve momentos em que as meninas estiveram sim um pouco afastadas, mas muito mais pelo curso do que pela diluição da amizade. Continuaram amigas. E pelo menos uma delas achava que o que as mantinha unidas era o amor pela música, pelo teatro, pela literatura e a completa aversão pela educação física!
No terceiro ano distanciaram-se um pouco mais. Cada uma tinha seus interesses, seus objetivos, mas só em sala de aula. Do lado de fora, nos intervalos, lá estavam as duas, sonhando com um futuro onde as pessoas seriam sempre felizes. Naquela época, as meninas, então com dezesseis anos, ainda acreditavam que haveria uma revolução cultural e que as pessoas se tornariam mais sensíveis. As meninas já não acreditavam tanto que poderiam mudar o mundo, mas tinham certeza que iam tentar sempre.
Uma das meninas foi embora. Mudou-se para o outro lado do mundo. A menina que ficou escreveu à mão em algumas folhas de caderno a letra inteirinha de “Meu Caro Amigo” e mandou pra que estava longe. Ainda era o tempo das cartas. Foram poucas, é verdade. A menina que estava longe ficou enfurecida, mas voltou e encontrou a outra a esperando com o violão na mão. Escrever aquela música tinha até doído a mão. Naquele dia cantaram e tocaram até tarde da noite e ambas perceberam que muita coisa havia mudado naquele ano de distância. As meninas haviam mudado muito, estavam menos adolescentes, estavam mais amigas.
Mas a vida novamente acabou separando as duas meninas. Cada uma morando em uma cidade, ambas trabalhando de dia pra estudar à noite, sempre muito cansadas. Falavam-se por telefone, mas isto passou a acontecer apenas duas vezes por ano: nos aniversários. Encontraram-se algumas vezes, claro. Havia as festas de ex alunos e elas combinavam de se ver lá. Divertiam-se, riam muito, lembravam dos tempos da adolescência e iam embora, cada uma pro seu lado. Quanto riso, quanta lágrima!! Mas o fato é que se afastaram...
Muita coisa aconteceu durante o período em que as meninas estiveram afastads. Tinham notícias uma da outra por amigos comuns, pelo orkut, às vezes por e mail. Uma das meninas era muito mais relapsa que a outra; ligava menos, escrevia menos. Mas sonhava muito. E muito alto. Sonhava com a harmonia entre os homens, com a paz, com a alegria. A outra menina se casou, conseguiu um bom emprego e mudou-se para o interior de vez. Voltaram a se encontrar no casamento de uma delas, a que jurara pra si mesma nunca se casar. Coisas da vida. Separaram-se novamente depois de um abraço forte e sincero. Uma das meninas teve uma filhinha, que a outra sequer se dignou a ir conhecer. Estava correndo contra o tempo. Sempre o tempo era o culpado. Mas não era só pra menina recém casada, era pra recém mamãe também. E assim a amizade se mantinha, apesar do pouco contato.
Acabou indo embora à francesa. Aquela festinha de criança havia trazido lembranças e emoções demais pra uma noite só. A menina foi embora feliz, mas com medo da outra ficar chateada por ela ter sumido sem dar tchau. No dia seguinte, pensou em telefonar, mas ia dizer o quê? Enrolou, enrolou e acabou não ligando. Pior, mergulhada nas suas reflexões (que apelidara carinhosamente de revolução existencial interna), esqueceu-se do aniversário da amiga e aí se perdeu. Isto nunca havia acontecido em quase quinze anos. A menina ficou bastante envergonhada, mas também não ligou. Dentro de exatamente um mês seria o seu aniversário e se a amiga não telefonasse, aí ela telefonaria.
09 abril 2008
Solidão
Pouquíssimas vezes na minha vida me senti só. Meu problema sempre foi exatamente o contrário. Muitas vezes precisei ficar sozinha, mas não deixaram. E de tanto ninguém me deixar ficar um pouco sozinha, acabei deixando de perceber quando precisava me isolar e ficar comigo mesma por um tempo.
A duras penas retomei as rédeas da minha vida. Pelo menos dentro da minha cabeça. Andei ficando sozinha meio que na marra. Tive que me afastar um pouco das pessoas, mesmo das que eu mais amo. Foi difícil, mas acho que valeu a pena. Parei, refleti, tomei decisões. Infelizmente não sobre o que eu quero, mas pelo menos sobre o que não vou fazer da minha vida. E já acho isto um grande progresso. Aí voltei ao convívio com as pessoas. Voltei melhor, meio perdida, mas com certeza mais feliz. Abdiquei novamente da solidão.
Desde que me casei, estou sozinha em casa pela primeira vez. Aliás, minto. É injusto dizer que fiquei sozinha tendo um cachorro atrás de mim cem por cento do tempo em que estou dentro de casa. Mas é diferente. Reconheço o valor da amizade canina, mas é diferente. Bem, o fato é que, então, mesmo com um rabo que balança incessantemente na minha frente buscando minha atenção, eu me senti pela primeira vez na vida muito só.
- Você trocaria tudo isso pelo amor da sua vida?
- E você? Trocaria?
Eu?! Não!! Eu não troco, não!! Nem no presente, nem no futuro. O tempo verbal já diz tudo: futuro do pretérito, o que nunca vai acontecer, vai ser sempre uma hipótese. Eu não troco o amor da minha vida, que eu já encontrei, por nada. Eu não troco ter quem me espere chegar, ter a quem esperar chegar, por nada neste mundo. E nestes dias, que eu cheguei sem ter quem me esperasse, que eu não tive a quem esperar, cheguei a achar que havia descoberto o que é solidão de verdade.
Larissa está quase morrendo de saudades do seu marido, mas não se arrepende de não estar junto com ele agora. Sabe que mais forte que a tristeza de deixar partir é a alegria de ver voltar.