21 fevereiro 2008

Vergonha Nacional

Afora toda a bandalheira que vem acontecendo neste país nos últimos anos (e não apenas nos últimos seis), uma questão que pode parecer singela à primeira vista chega a me fazer sentir saudades de FHC e D. Ruth: educação, em todos os aspectos possíveis e imagináveis.

Até a posse do Presidente Lula, NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS um dirigente envergonhou tanto seu povo com as pérolas que diz e as asneiras que faz. Eu já estava até disposta a relevar o fato de o Presidente ter se esquecido que as instituições democráticas de um país não têm partido político ao colocar no jardim do Palácio UMA ESTRELA DO PT, até o mesmo digníssimo senhor usar um PIN DO PT em viagens internacionais, a priori, de cunho diplomático. Quebra de protocolo parece ser um marco no mandato do atual Presidente: basta colocar nas ferramentas de pesquisa da internet “Lula” “quebra de protocolo”. Aproximadamente 113.000 resultados para a pesquisa dos parâmetros informados.

Como se não bastasse o constrangimento – e cutucão público e amplamente divulgado pelos meios de comunicação internacionais do Chefe de Estado anfitrião – causado ao dizer, em discurso na Namíbia, que ESTAVA IMPRESSIONADO COM O PAÍS, QUE NEM PARECIA QUE ESTAVA NA ÁFRICA, o Presidente eleito por uma maioria da qual orgulhosamente não faço parte tampouco se constrangeu ao afirmar, em NOVA YORK, que O BRASIL SÓ NÃO FAZ FRONTEIRA COM CHILE, EQUADOR E BOLÍVIA.

O que dizer do BRINDE à felicidade do PRESIDENTE SÍRIO AL ASSAD, que compreensivelmente permaneceu sentado e não ergueu a taça, esquecendo-se o Presidente que muçulmanos não ingerem álcool? Parece-me que também se esqueceu de que não existe um CONTINENTE ÁRABE para, no século XXI, junto com o continente sul americano, não esperar ser descoberto.

Em reunião com Chefes de Estado em LONDRES, onde o regime é parlamentarista e o mandato do primeiro-ministro não tem prazo para acabar, afirmou que “EM DOIS OU TRÊS ANOS possivelmente não estaremos aqui, talvez sejam outros. E NEM SERÁ O TONY BLAIR QUE ESTARÁ CONVIDANDO, SERÁ OUTRA PESSOA". Não satisfeito, sempre dá apoio EXPRESSO e INCONDICIONAL a HUGO CHAVÉZ, um dos maiores débeis mentais da atualidade, a quem o Rei Juan Carlos da Espanha acabou mandando CALAR A BOCA. Virou estampa de camiseta, não sem razão.

Aliás, tenho que admitir que se há neste mundo um povo que passa tanta ou mais vergonha que o brasileiro quando se trata de Chefe de Estado, é o povo venezuelano. Ninguém merece ver o Presidente do seu país pondo a cara na TV em rede internacional pra falar asneiras deste naipe:

"Esse é um gesto de desprendimento pessoal que o enaltece. Isso é uma lição para aqueles que o acusam de ter se aferrado ao poder desesperadamente." (Hugo Chávez, presidente venezuelano, sobre a renúncia de Fidel Castro, que passou 49 anos no comando de Cuba, em 19/02/08)

Como também não poderia deixar de ser, o Brasil tem uma primeira dama à altura do Presidente: em visita à França, a primeira dama não se dignou a VISITAR O LOUVRE. Preferiu sair às compras, em época em que falar em CARTÃO CORPORATIVO era assunto meramente administrativo, e não manchete de jornal.

Faço minhas as palavras do Coltrane (www.resistindo.com.br):

Racha minha cara de vergonha! Cachaceiro burro e miserável!


Larissa chega a achar que talvez devêssemos agradecer aos céus por ainda não estarmos com todas as relações diplomáticas cortadas, completamente banidos do mundo conhecido e habitado pelo homem, mundo dito civilizado.

20 fevereiro 2008

Alunos e Professores: uma relação de amor e ódio

Demorei muito a admitir isto pra mim mesma, mas o fato é que eu adoro estudar, adoro estar na sala de aula, se pudesse, fazia curso de tudo que há. Freud explica porque eu não admitia que gosto de estudar, mas o fato é inegável. Ninguém mete a cara pra fazer pós-graduação sem ter renda fixa do jeito que eu fiz se não gostar muito de estudar.

Tive professores excelentes na pós-graduação. Mas é claro que sempre tem aquele com quem você não se dá bem. E obviamente, eu não fujo à regra. E parecia que tudo conspirava pra eu ter um confronto com aquele professor. É verdade que já fui meio implicada com o sujeito porque tenho uma péssima experiência com professores-estrela. Professores-estrela são aqueles que têm pós-pós-doutorado em alguma coisa praticamente incompreensível para os reles mortais, falam quinze línguas fluentemente, escrevem livros e mais livros usando a mesma linguagem incompreensível da tese de pós-pós-doutorado e um único manual com linguagem palatável. E este manual simplesmente se esgota em questão de segundos a cada vez que é reimpresso ou reeditado: o cara ainda fica rico, se já não era. Aí eles acabam se achando o último biscoito do pacote e tomam a sua (eventual) ausência na aula deles como ofensa pessoal. Pra estes, a única justificativa plausível para alguém matar a aula deles é estar sendo sepultado. E o meu era destes.

Dei o azar de na primeira aula dele, que nem foi num dia regular da pós-graduação, eu estar em São Paulo a trabalho. Não tinha jeito, não dava pra voltar, assistir a aula e depois pegar outro avião pra voltar pra São Paulo. Matar a aula era a opção mais razoável, então, matei sem remorsos. Na semana seguinte, tomei o cuidado de sair mais cedo do trabalho pra não me atrasar pra aula do fulano, já que eu havia sido alertada que ele era cheio das gracinhas. Evidentemente, caiu uma tromba d’água, o trânsito que já é caótico conseguiu ficar pior e eu me atrasei quinze minutos. Corri na esperança dele também ter sido pego pela tromba d’água, mas qual é. A porta já estava fechada quando cheguei. Calcei a cara e entrei, né, fazer o quê? Pagando mil contos por mês pra ter aula duas vezes por semana, eu não ia me dar ao luxo de perder a aula toda por causa de quinze minutos de atraso. O cara me olhou feio, mas não falou nada. Mas fez expressão de quem diz: depois a débil mental é reprovada e reclama que o professor é ruim.

Desde então, o universo começou a conspirar pra eu ter toda a sorte de imprevistos nos dias da aula do fulano. Na aula seguinte, lá estava eu previdentemente nos arredores do instituto uma hora antes da aula começar, quando meu celular tocou. Era uma amiga, simplesmente arrasada, chorando aos cântaros, porque tinha recebido um e-mail babaca do babaca do ex-namorado dela dizendo que reconhecia o quão babaca ele havia sido com ela e que era tão babaca que não tinha coragem de falar isso com ela cara a cara. Ela me perguntou se eu estava perto do instituto e se podia encontrar com ela (ela trabalha lá perto). Não tinha jeito, mais uma aula do camarada estava fadada, no mínimo, a um atraso. Mas eu não ia abandonar minha amiga naquela situação.

Tive a brilhante idéia de ligar pro meu namorido ir se encontrar conosco – ele é amigo dela também – pra ele ceder o ombro amigo enquanto eu assistia à aula de Átila, o Huno. Mesmo assim, atrasei meia hora. Pus o pé na sala e ouvi: “pelo visto você não tem muito compromisso com o curso”. Como assim não tenho compromisso com o curso?! “Pelo visto o senhor deve ter algum recalque se não ser juiz pra estar me julgando assim sem me conhecer”. Sentei e fiz de conta que nada tinha acontecido. Como Murphy impera, o fulano tava justamente falando sobre uma matéria que eu tinha uma dúvida e, claro, o ponto já havia sido abordado. Enfiei o rabo entre as pernas e assisti à aula caladinha, afinal, tava errada mesmo. Quando deu a hora do intervalo, o professor fala:”turma, quem tiver alguma dúvida, estou à disposição”. Bem, achei que valia a pena ir lá expor minha dúvida, mesmo sabendo que corria o risco de levar uma patada. E até porque “turma” me incluía.

- Boa noite, Professor, eu tenho uma dúvida. (cara constrangida)
- Pois, não. Qual é a sua dúvida? (cara solícita)
- Mas se a rebimboca da parafuseta for usada desta forma, não corre o risco de explodir tudo? (cara de pau)
- Eu expliquei este tópico, mas a senhorita não estava em sala. (cara cínica)
- Senhorita, não, senhora, porque eu sou uma mulher casada!! (cara de puta da vida)


A guerra estava declarada.

Na aula seguinte, um sábado, cheguei cedo porque não tava afim de encheção de saco. Alguém tinha deixado um saquinho de jujuba na mesa pra quem quisesse pegar. Fiquei olhando o saquinho e pensando se valia a pena gastar calorias com jujuba quando o fulano chegou e disse, olhando na minha cara: “olha quem já está aqui!” Imediatamente comecei a repetir para mim mesma o mantra “você não vai comprar a provocação dele, você não vai comprar a provocação dele, você não vai comprar a provocação dele” e me acalmei. Sorri e não disse nada, afinal, sou uma dama. Aí ele perguntou, vendo o saquinho na minha mesa:

- De quem esse saquinho de jujuba aqui? (cara de quem ama jujuba)
- A fulana trouxe pra todo mundo, pode pegar se quiser. (sendo civilizada)
- Vou pegar, aceita jujuba? (pegando o saquinho)
- Aceito. (achando que era um sinal de paz)
- Não dou porque a senhora é muito topetuda! (se segurando pra não rir da minha cara)


Aí eu tive que rir, né? Não tinha alternativa.

Chegou o resto da turma e o fulano foi por uma fita (hellooooo, fita!!) pra gente assistir uma palestra de um cara alemão, com tradução simultânea. Deu um pau no equipamento e a tradução simultânea não funcionou de jeito nenhum. E o cara lá, falando alemão pra gente. Quando o fulano viu que não ia ter jeito mesmo, desligou tudo e começou a ladainha (nesta hora eu já estava em cólicas de vontade de rir da cara dele):

- Putz, estas coisas me matam, preparei a aula toda em cima desta palestra e a coordenação me dá uma desta, manda equipamento que não funciona, minha cabeça tá até doendo. Alguém tem uma neosaldina aí?
(silêncio)
- Eu tenho. (pensei em trocar por uma jujuba, mas aí seria muita baixeza da minha parte)
- Só ela que tem, gente, pelo amor de Deus, ela tripudia da minha aula e eu ainda vou ficar devendo uma neosaldina pra ela? Ah, não. Não quero não (rindo), porque uma só não adianta, eu tomo de duas em duas.
- Então você vai ficar me devendo são duas neosaldinas! (tirando a cartela cheia da bolsa)


Achei que tínhamos meio que feito um pacto de paz, né? Afinal, eu tinha salvado a cabeça dele da implosão.

Pois não é que quando fui conferir minhas notas, o fulano tinha me dado exame especial por freqüência?! Ele me deu falta nos dias que atrasei e eu tava em exame especial por uma falta!! Aí fui conferir minha nota, né, porque com um bom aproveitamento eu poderia tentar o abono. Minha nota: NOVENTA E OITO!!! Quer dizer, o fulano, mesmo vendo que tinha tido noventa e oito por cento de aproveitamento me pôs no exame especial!!! Liguei pra coordenação.

- Bom dia, fulana, o senhor (que é pouco mais velho que eu) coordenador está aí? Posso falar com ele? (minuto) Oi, coordenador, tudo bem? Estou conferindo as minhas notas e freqüências e vi aqui que estou em exame especial na disciplina rebimboca da parafuseta por causa de uma falta apesar de ter tido 98% de aproveitamento.
- Ah, então é com você que o fulano anda implicando desta vez!!!


Ou seja, o fulano tem por hobbie atazanar a vida de um aluno por semestre e, adivinhem? Eu era a atazanada da vez!

Problema resolvido, pós-graduação acabada, encontro na rua uma ex-colega de turma que estava trabalhando no departamento que o fulano gerenciava. Perguntei como que ela conseguia trabalhar com um tipinho daqueles, sádico, que se divertia às custas de atazanar as pessoas e ainda tive que ouvir esta: ele é só elogios pra você!

- Aquela Larissa é uma das mulheres mais irrascíveis que já conheci, bocuda mesmo, precisa urgentemente de um relógio, mas tenho que admitir que é uma excelente aluna!

Larissa acha que o fulano é um dos homens mais arrogantes que já conheceu, tem certeza que é o rei da bala chita, precisa urgentemente de um aparelho de DVD, mas tem que admitir que o cara é um excelente professor.

17 fevereiro 2008

Liberdade de Expressão e Otras Cositas Más

Tenho o hábito de observar as pessoas. Fico quietinha, observando seus gestos, caras e bocas, neste ou naquele ambiente, como reagem diante desta ou daquela opinião, através de palavras, gestos ou do silêncio. Isso quando não estou junto com quem observo ou a discussão não me diz assim muito respeito. Quero dizer, quando o assunto pra mim não vale o gasto de ATP´s. Aí eu me expresso pelo silêncio e fico observando. Também me silencio quando sei que a expressão verbal vai ser bombástica. Sou daquelas que dá um boi pra não entrar numa briga, mas uma boiada pra não sair mais dela. Aí, eu prefiro mesmo me poupar pra quando o confronto for inevitável.

Obviamente, nem sempre consigo controlar minha língua com tanta facilidade, mas na maior parte das vezes eu consigo sim (desde que eu queira). O problema é quando eu não quero me conter e acabo falando tudo que penso, usando o sentido das palavras com precisão cirúrgica pra manifestar minhas idéias. Não sou destas que consegue ficar em cima do muro, não dar opinião, me omitir diante do que acontece à minha volta e que influi direta ou indiretamente na minha vida. Pra piorar essa minha compulsão por opinar, parece que tenho conexão direta com algum satélite que me permite prestar atenção em tudo que está acontecendo no ambiente ao mesmo tempo e de participar de tudo simultaneamente. Esta minha conexão satélite chega a chamar atenção de algumas pessoas e irritar outras profundamente. E eu até me divirto com isto.

Quando adolescente, eu tinha uma certa dificuldade de identificar quando a briga era boa, quando valia a pena usar meu arsenal verbal pra matar uma formiguinha quando ignorar já seria suficiente. A maturidade me proporcionou uma visão mais ampla que permitiu fazer a análise custo-benefício do uso das palavras e da expressão de idéias de forma mais eficaz, evitando que eu gerasse traumas e situações, no mínimo, desagradáveis e constrangedoras pra mim e para outras pessoas. Além de formar uma falsa imagem do que eu sou. Costumo chamar este aprendizado de “filtro de sociabilidade”.

Meu filtro de sociabilidade está programado pra entrar em funcionamento sempre que ouço coisas do tipo: “não me interesso por política”, “você sabe com quem está falando?”, “como assim você NÃO quer ter filhos?”, “ah, não gosto muito de livro, não”, “cinema nacional não presta” e coisas congêneres. Aí eu me calo, mas começo a ter urticárias de vontade de responder “é por isto que o mundo está esta merda, “com um bosta que acha que cargo e/ou sobrenome fazem dele algo mais que um simples mortal”, “não é que eu não queira ter filhos, é que eu simplesmente NÃO SUPORTO A IDÉIA de perder minha liberdade”, “compreensível você não gostar de livros diante da sua absoluta incapacidade de assimilar o conteúdo deles”, “não só presta como é premiado, por pessoas que não são culturalmente limitadas como você” e por aí vai.

Ultimamente meu filtro de sociabilidade tem ficado permanentemente em funcionamento, o que significa que tenho ouvido besteiras de forma sistemática. Significa também que uma situação de exceção tornou-se a regra, de forma que meu filtro de sociabilidade vem perdendo a razão de existir. Tive que fazer um ajuste na programação dele, sob pena de desenvolver uma úlcera nervosa. Perguntas como “como assim você NÃO quer ter filhos?” passaram a ser respondidas com “não é que eu não queira, eu queria muito, mas NÃO POSSO ter filhos, apesar de todos os tratamentos que já tentei e não passei no exame psicológico para adoção”. Pronto. O assunto morre imediatamente e o sem desconfiômetro nunca mais te aporrinha. Mas como me manter calada diante de coisas do tipo “sou concursado de tal lugar, mas só vou lá uma vez por semana, emprego toda a minha família no serviço público mesmo enquanto eu for prefeito”, “eu nunca voto, sempre justifico” ou “arrumei uma boquinha no serviço público”? Ajustei meu filtro de sociabilidade para se desligar automaticamente diante deste tipo de situação.

Minha avó dizia que sobre política, futebol e religião não se discute; e que gosto e cu, cada um tem um. Ela que me desculpe, mas não dá pra não discutir política, não dá pra não discutir educação e cultura. Cheguei à conclusão que errei ao manter por algum tempo o filtro de sociabilidade ligado em algumas situações. Há momentos em que não se pode e não se deve calar. Tampouco deixar de promover a defesa de suas idéias. E é o que eu tenho feito. Adoro um debate, adoro uma discussão. Acredito que é assim que se evolui. Principalmente no que concerne às políticas adotadas pelo governo e que influenciam diretamente a vida da população.

É transposição do Rio São Francisco? É a farra dos cartões corporativos? É pôr o Exército na rua pra combater violência? É boicote à tributação? Legalização de drogas, reforma agrária, transgênicos e cotas universitárias? Eu tenho uma opinião bem formada a respeito de tudo isto e vou me manifestar. Quem não concordar que arrume bons argumentos, pois eu não fujo da discussão. Basta uma fundamentação decente que o debate será mais que saudável, será produtivo e eu poderei até mudar de idéia. Mas não me venham com xurumelas, porque eu já estou por aqui de ficar ouvindo besteira dita na minha cara, de tentarem me empurrar goela abaixo os maiores absurdos. E se tem uma coisa que dispara um discurso combativo e, muitas vezes até agressivo, das minhas opiniões é ser tratada como uma imbecil, como uma alienada que desconhece a História do seu próprio país.
Larissa reconhece que às vezes extrapola a combatividade, mas ainda não conseguiu fazer todos os ajustes no seu filtro de sociabilidade: ou se cala, ou se manifesta, correndo o risco de parecer agressiva ou sem educação sem ser de verdade uma coisa, nem outra.