Hoje (ontem, dia 10) eu acordei com o telefone azucrinando minha vida. Sabe quando você tá sonhando que conseguiu pegar aquele brigadeiro gigante (que sempre evaporava nas suas mãos) e tá enfiando ele inteiro na boca e acorda antes de sentir o gosto? Foi assim que eu acordei.
- Alô!, falei, mau humorada.
- Oi, Larissa, é o Genilson (*). Te acordei?
- Ahnnn... mais ou menos, Genilson (constrangida ao ver que já era quase meio-dia); faz o seguinte: vou acabar de acordar, lavar a cara e te ligo daqui a pouco, pode ser?
- Não precisa, só liguei pra te contar que eu passei no vestibular da Federal pra Medicina.
Sabe quando você está sonhando e justamente quando o tubarão vai te pegar e te fazer em pedacinhos e mastigar com aqueles dentes afiadíssimos você acorda nos braços do Wolverine de sunguinha vermelha? Acabei de acordar assim!!
- Ai, que bênção, Genilson!! Vamos sair pra comemorar!! Parabéns!!
Sabe, toda vitória é especial, mas a do Genilson é mais ainda. Conheci o Genilson no serviço voluntário. Eu era voluntária e ele era detento. Estava cumprindo pena por tráfico de drogas e roubo. Era viciado em cocaína. Largou a droga. Cumpriu a pena. Nesse meio tempo, voltou a estudar. E agora vai fazer Medicina!! Que orgulho de ter incentivado meu amigo – sim, ele se tornou um amigo – a mudar de vida!!
Levantei, tomei um banho e fiquei cantarolando até ouvir uma que me deixou passada.
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Dormi Com Esse Barulho
Fui prum churrasco e lá, naquela difícil vida de piscina, cerveja e picanha com os amigos, ouvi um comentário de que o pai do fulano não aceitava que ele fosse amigo do Pedro (*) porque o Pedro era preto. Meus olhos quase saltaram das órbitas. Primeiro porque o Pedro tem que tomar muito sol na moleira pra poder ser tecnicamente chamado de preto. Segundo porque ainda que ele fosse preto igual jabuticaba isso não é critério pra definir quais são as boas amizades. Terceiro: puta que pariu que eu pensava que isso já tinha virado coisa de novela!! Quando externei meu puta que pariu, ouvi do Pedro:
- Lalá, se eu te contar que isso existe e muito você não vai acreditar. Outro dia minha sobrinha chegou lá em casa chorando aos cântaros. Perguntamos pra ela o que tinha acontecido e ela respondeu que não queria mais ser pretinha (eles a chamam carinhosamente de Pretinha, a menina é linda, tem cinco anos, parece uma indiazinha, cabelo lisinho, preto, uma tetéia), que queria ser branquinha, ter olhos azuis e cabelo lourinho de cachos, igual princesa pra ela poder ir à festinha de aniversário da colega de turma.
Desta vez meus olhos não saíram das órbitas, mas ficaram vidrados. Que tipo de gente é esta que faz isto com uma criança?!! A mãe da tal coleguinha de sala não convidou a sobrinha do Pedro pra festinha porque a menina na concepção daltônica dela é preta. E como é que se explica pra uma criança que é melhor nem conviver com gente que acha que a cor da pele – ou a religião, nacionalidade, orientação sexual, e por aí vai – não servem de critério pra se verificar nada de nada? Como é que se explica pra uma criança de cinco anos que o mundo ainda tá coalhado de espírito de porco? Fui dormir ontem pensando na menininha. Isto aconteceu ontem e até agora não consegui parar de pensar nisso. Como é que pode, meu Deus?
(*) Nomes fictícios pra preservar a identidade dos amigos.
2 comentários:
É, quando a gente acha que algo de ruim está se extinguindo, que nada! Aparece bem na nossa frente um caso estúpido de preconceito.
Infelizmente ainda temos de ralar muito pra melhorar a sociedade e as pessoas.
Beijos!
Larissa,
Obrigada pela visita no meu blog!
Este texto foi o primeiro que li aqui e adorei!
Alias, adorei seu blog, a foto da abertura eh lindissima!
Vou te visitar mais vezes.
Ah, e muito obrigada tambem por me linkar aqui. Fiquei muito honrada. Eh muito legal quando vemos que novas pessoas estao acessando o nosso blog, ne'?
Andrea
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