13 fevereiro 2008

Loucura, Esquizofrenia e Mau Caratismo: Tudo em Cena de Uma Só Vez

Usa-se muito a palavra loucura quando se acha que alguém agiu de forma que o senso comum não recomendaria – tipo sair gritando as pessoas pela rua – ou quando se teve coragem de soltar as amarras e, por exemplo, não se aceitou emprego num país de desempregados, terminou-se um namoro morno e se mudou pra outro país sem nem conhecer a língua. Há várias outras palavras que poderiam ser empregadas ao invés de louco. Quem grita as pessoas pela rua ou está bêbado ou desesperado ou surpreso ou é sem educação mesmo. Tecnicamente não se caracteriza loucura. Quem recusa um emprego, larga o namoro mais ou menos e se arrisca em outro país pode ser corajoso, arrojado, irresponsável, depende do ponto de vista de quem está avaliando. Mas tecnicamente também não se caracteriza loucura. Loucura é a qualidade ou o estado do louco, que pode ser aquele que perdeu a razão, o que está apaixonado, o brincalhão ou o furioso. Mas a loucura não é um estado necessariamente permanente. Quem nunca fez loucuras? Quem nunca se apaixonou, nunca brincou ou nunca se enfureceu? Eu, graças a Deus, tenho meus momentos de loucura. Saio às vezes na rua cantando em alto e bom som, dou gargalhadas por nada, me enfureço com buracos na estrada, sou uma mulher apaixonada. Louco é quem nunca cometeu uma loucura.

Mas há os “loucos” patológicos, a quem a medicina e a psicologia dão outros nomes. Dentre eles, há os esquizofrênicos. Esquizofrenia, de origem grega, significa mente dividida; a dissociação que existe entre o pensamento da pessoa e a realidade a sua volta. Esquizofrênicos criam um mundo paralelo à partir de um fato real. Conseguem elaborar conspirações fantásticas, exercem um papel importantíssimo nas tais conspirações, são o centro das atenções, porém, de uma realidade que só existe na cabeça deles. Quem não se lembra de John Nash, matemático norte-americano vencedor do prêmio Nobel de Economia? Nash teve uma vida sofrida e provocou muito sofrimento para sua família, mas nunca prejudicou ninguém. Não que eu tenha conhecimento, já que biografias autorizadas e filmes-homenagem não costumam contar os podres dos protagonistas. Mas há os esquizofrênicos não diagnosticados e estes sim podem provocar muito dano às pessoas à sua volta. Mesmo que todos percebam sua “loucura”, e dêem gargalhadas de suas teorias conspiratórias, sempre há alguém prejudicado pelas manifestações do esquizofrênico. E se para muitos os atos do esquizofrênico são motivo de riso, pro alvo da esquizofrenia não há nada de engraçado. No início, dá tristeza; depois dá pena. Esta loucura é doença, não tem cura e nem sempre o tratamento dá resultado. Definitivamente, não faz rir, nem cantar. Mas traz prejuízo, no mínimo emocional. E amigos meus estão passando por isto agora por terem convivido com um esquizofrênico não diagnosticado.

Há ainda quem chame – equivocadamente, na minha opinião – os portadores de transtorno bipolar também de “loucos” patológicos. Que a bipolaridade é um distúrbio, não duvido. Mas daí a ser louco patológico acho que tem uma distância. Convivo com algumas pessoas que têm a bipolaridade dignosticada (embora também seja difícil o diagnóstico, já que muitas patologias têm características em comum com a bipolaridade e a esquizofrenia) e todos eles seguem o tratamento. Nada impede que exerçam suas atividades, ninguém nem diria que são portadoras de sofrimento mental. Porém, os bipolares não diagnosticados podem trazer sérios problemas para si e para os outros. A alternância de humor pode levar o bipolar a agir de forma como nunca agiria e ninguém entende porque num dia a pessoa está eufórica e no outro está deprimida, chorando no canto da sala. Como o humor é inconstante, as pessoas taxam o bipolar de louco ou dizem “fulano é assim mesmo, instável, esquece que ele te xingou à toa, que gritou com você, releve, seja um espírito elevado”.

E a trouxa aqui foi relevando, relevando, relevando. Chegou a pensar que estava convivendo com um portador de transtorno bipolar mas, ao final, percebeu que alternância de humor, instabilidade, doença, loucura e mau caratismo não se confundem. E o que eu fui relevando, relevando, relevando, sempre após desculpas esfarrapadas de que “não estou numa boa fase...”, “precisamos pensar no grupo e não individualmente”, “ah, vai ter que dar!”, “o que é que você espera de mim às 15:00h!”, “preciso ir ao médico, não estou bem...” foi se mostrando um eficaz instrumento para manipular situações e pessoas até conseguir o que queria. Esquizofrenia, talvez? Também não. Mas sim um exemplo de mau caratismo. Aí você começa a analisar fatos passados e fica chocada: como é que não percebeu isto antes? Era tão evidente a prepotência, o autoritarismo, o orgulho, a soberba, o egoísmo, o individualismo e tantos outros ismos que não quero nunca ter como predicados!

E agora, mais esta! Achei que tinha ficado livre do mau caráter (e azar o dele se ele também é bipolar ou esquizofrênico), mas não. Ele volta à cena por meio de subterfúgios. Precisa de mim, mas o orgulho e a soberba, embora não o impeçam de ver isto nitidamente, o impedem de fazer uma simples ligação, enviar um e mail e resolver o problema. Na realidade, nem precisa. Pode resolver sozinho. Mas pra isso gastaria tempo e o tempo do mau caráter vale mais que o dos outros. Além do mais, o mau caráter autoritário gosta de mandar, gosta de sentir que manda e os outros obedecem. Então usou outra pessoa pra me mandar fazer uma coisa que eu não tenho obrigação nenhuma de fazer por conhecer o vínculo que me une a esta pessoa. Mas desta vez o mau caráter vai quebrar a cara. Porque a pessoa que ele acha que eu respeito acima de muita coisa, por quem eu até faria o que foi indiretamente ordenado sem nem questionar, também vem, há algum tempo, se mostrando, de forma mais inteligente, lenta e sutil, um outro mau caráter. E pessoas de mau caráter não são dignas de respeito, nem de consideração. Vai dizer de obediência!!

Espere sentado, mau caráter, o cumprimento de sua ordem. Porque ordens, quando já não há mais hierarquia, são cumpridas como favor, por respeito, não por temor ou sentimento de dívida. E eu não vou te fazer este favor não porque eu não te respeite ou não te tema mais, como você pensa e gosta de pensar. Eu não vou te fazer este favor é porque de fato eu nunca te temi, muito menos te respeitei!!


Larissa está chocada com os absurdos de que as pessoas são capazes, como inventar coisas e provocar prejuízo às pessoas, amoralmente ou inventar a mesma coisa, por mau caratismo, imoralmente. E ainda dizem que a louca é ela, que canta em voz alta na rua e no chuveiro!!

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