Eu mesma nunca tinha feito terapia, apesar de minhas amigas psicólogas insistirem que psicanálise isso, psicanálise aquilo, etc etc etc. Várias vezes elas tentaram me levar pro consultório de alguma professora sen-sa-ci-o-nal que ela tinham certeza que eu ia a-mar, sem êxito. Eu me sentia muito bem comigo mesma e, cá entre nós, se o problema está assim tão bem escondido a ponto de nem percebermos que ele existe, desencavar o fulano pra quê? E assim eu vim levando minha vida, alegre, feliz e saltitante.
Até o dia em que a vida me deu um golpe. Tirou meu chão, meu céu, meu ar. Fiquei igual bolha de sabão: vazia, voando, frágil, esperando só um toque, ainda que suave, pra acabar com tudo de vez e virar vários pinguinhos pelo chão. Naquele dia as amigas conseguiram me convencer a procurar um psicanalista. E lá fui eu. Pela primeira vez eu estava realmente aberta pra me conhecer melhor. Teve lá aquela outra vez que fui numa fulana, mas não deu liga, então nem conta.
Na primeira sessão quase desidratei de tanto chorar. Sabe quando a gente se sente sufocado? Aquela sala parecia um grande balão de oxigênio. E deixei boa parte do meu sufoco momentâneo lá. Fui embora mais leve e já pensando se eu realmente precisava fazer terapia ou só dar uma boa chorada mesmo. Por via das dúvidas, deixei marcada outra sessão pra semana seguinte.
Tive uma surpresa: passei a semana esperando chegar a outra sessão!! Me sentia menos frágil, mas ainda precisando falar, falar, falar até a boca ficar seca. E ouvir também, né? Porque as intervenções fazem parte. Minha terapia não é uma psicanálise clássica, daquelas que a gente fala, fala, fala e reza pra ter um insight sem ouvir a voz do psicanalista. Tudo bem que eu falo pra caramba, mas monólogo é demais até pra mim. Preciso de um feed back. Dessa vez não teve choro, mas teve engasgo e olhos mareados. Achei conveniente marcar pra outra semana de novo. Só mais um dia e eu estaria curada.
Na terceira sessão eu tive certeza que não havia cura pro meu caso, simplesmente porque não havia enfermidade. Havia sim uma incompreensão tão grande de tantas coisas que me deu vontade de ir ali todos os dias, durante um mês. Eu achava que assim eu teria alta brevemente. Mas psicanálise não funciona assim, então marquei pra outra semana.
No dia em que completei meu primeiro mês de terapia eu estava me sentindo dez milhões de vezes melhor do que no dia em que eu pisara ali pela primeira vez. Engraçado como a gente se escancara – ou é escancarado quase que na marra – com uma pessoa estranha, né? Acho que é porque pensamos que o terapeuta não vai nos julgar. Ledo engano. E ivo. Eles só não pronunciam o julgamento. Achei que estava preparada pra contar pro meu namorado – falo namorado, mas a gente já mora junto tem bastante tempo – que tinha começado a psicanálise. Afinal, minha terapeuta já sabia nossa história de cabo a rabo. Contei e ele me deu o maior apoio. Como eu amo este meu namorido! Minha terapeuta ia amar saber que meu namorido havia me dado o maior apoio.
Obviamente já deu pra perceber que a psicanálise havia entrado de vez na minha vida. Mas pra mim não era tão óbvio assim. Eu continuava achando que teria “alta” em pouco tempo.
Pois o tempo foi passando, passando e toda semana lá estava eu. Eu não saía mais com a cara vermelha de tanto chorar, nem com a cara triste. Saía pensativa, feliz por estar conhecendo um lado meu que nem eu sabia que existia.
Aí teve um dia que a terapeuta falou assim: hoje está fazendo um ano que começamos a análise. O que você me diz disso? E eu: menina, mas você sabe que eu tô gostando mesmo desse negócio?
Larissa nunca quis conhecer seus medos a fundo, mas chegou uma hora que não teve opção. Já se vai um ano de terapia e a Larissa que surge a cada dia descobriu que ter medo não tem problema algum.
1 comentários:
Eu não tive alta e parei assim mesmo. Ah, se eu pudesse voltar...!
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