04 novembro 2008

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Larissa anda Mal do Século demais...



10 agosto 2008

Vamos Foder o Dia Inteiro?


Vamos ter um filho?
Vamos escolher o nome dele?
Deixa eu te alegrar quando você estiver triste
te ninar quando você estiver cansada!

Vamos foder o dia inteiro?

Deixe eu te fazer uma massagem com creme?
Vamos aprender a tocar piano juntos?

Vamos foder o dia inteiro!

Deixa eu me ajoelhar, Glorinha, e beijar tua mão?
Vamos ser tão felizes, que fiquemos calmos.
Tão calmos, que fiquemos fortes.
Tão fortes, que possamos ajudar todos os nossos amigos que precisarem.

Glorinha, vamos foder o dia inteiro!

Vamos aceitar tudo que o outro é.
Defender tudo que o outro é.
Amar tudo que o outro é.

Vamos foder o dia inteiro!

De Cabral para Glorinha.


Larissa assistiu pela milésima vez Separações do Domingos de Oliveira e quer assistir pela milésima primeira, segunda, terceira... incansavelmente!

05 julho 2008

Li há muitos anos atrás que o amor não é onipotente, onisciente, não se basta sozinho. Do alto dos meus dezoito anos, interpretei amor de uma forma restrita: o amor entre um homem e uma mulher. Hoje sinto que o amor que não é onipotente, não é onisciente e não se basta sozinho é o amor de forma ampla e irrestrita. E não só o amor. O amor, o carinho, o respeito, a amizade, o coleguismo, a lealdade. Nenhum sentimento se basta sozinho. A condição humana exige muito mais.


Hoje era pra ser um dia feliz, mas Larissa acabou o dia muito triste.

29 junho 2008

O dia em que minha ficha caiu


Eu já sabia que este dia ia chegar. Eu sabia que isto ia acontecer. E confesso que achava que estava preparada para quando o dia chegasse. Tanto que nunca me preocupei com nada. Só esperei este dia chegar. E hoje ele chegou.


**********

Engraçado como a vida é, né? Acompanhei a vida do meu irmão bem de perto. Ele é rapa do tacho e eu fiquei em casa até casar. Além disso, são quinze anos de diferença. Era de se esperar que eu no mínimo percebesse que ele estava crescendo. Mas acreditam que eu não percebi? Quero dizer, eu vi que ele tava crescendo pra burro, dentro dos limites da genética, claro!! Aí eu vi que ele tava começando a ir pro shopping, queria ir ao cinema com os amigos, comer sanduba no Eddie’s; começou a se preocupar com a aparência, querer usar roupa bacana. Eu vi que as espinhas não apareceram, mas vieram uns cravinhos (eu e meus eufemismos!) que eu negocio pra tirar. “Só dez, Beto, dez cravos e eu juro que não encho seu saco mais.” E o coitado deixando. Vi que ele deu sorte da voz não afinar igual na piadinha do copo de leite e mais, deu sorte de ter um vozeirão. Aí um dia eu vi que o menino tava com cabelo no peito!! As pernas já estavam cabeludas tinha tempo. E como fica lindo meu irmão de terno, gente!! Pediu gravata emprestada pro meu marido outro dia. As festas de quinze anos tinham chegado. Enfim, eu vi meu irmãozinho virar um rapaz.

Só que eu esqueci que rapaz beija na boca, né?! Aí hoje eu tenho a notícia que o menino tá namorando!!! Como assim, tá namorando?!! Com ordem de quem? Quem deixou? Como assim?!! Pois é, assim mesmo. Aí fui procurar saber quem era a menina, né? Pelo menos saber como é a minha cunhadinha. Pois não é que a menina é gatinha?


**********

Hoje o horário do almoço deve ter sido um suplício pro meu irmão. Coloquem-se no lugar dele: você com dezesseis anos, primeira namorada assumida em casa, com mãe leonina e irmãs taurinas te metralhando de perguntas enquanto a comida do seu prato esfria? “Não faça com ninguém nada que você não queria que fizessem com suas irmãs.” “Não pode colocar chifre, hein, Beto? Ninguém é obrigado a namorar. Se não quer mais, termina, mas chifrar, não!” E o coitado ouvindo a ladainha e dizendo “já sei, já sei”. E bem humorado o menino!! Ainda bem. Mulher nenhuma agüenta homem mal humorado.


Larissa ficou meio em estado de choque ao saber que seu “irmãozinho” está namorando e admite que está achando bacana demais!!!

08 junho 2008

A Falta que a Maturidade Faz


Estou com trinta e um anos. E nestes trinta e um anos aprendi muita coisa. E adquiri a capacidade de perceber as oportunidades que eu perdi ao longo da vida por imaturidade. Não me culpo, não me martirizo. Mas lamento algumas oportunidades as quais não aproveitei.

Atualmente, sonho em aprender duas coisas: tocar bandolim e costurar alfaiataria. Fico vendo pessoas tocando bandolim lindamente e me lembrando da minha infância. Vovô tocava bandolim. Vovô tocava muitos instrumentos musicais e todos ele tocava muito bem. Ele tinha este dom. Mas o que mais me encantava era o bandolim. Principalmente quando ele tocava a valsa que fez pra mim e que eu nem me lembro como ela é mais. Aí eu fico triste porque poderia ter pedido meu avô pra me ensinar a tocar bandolim, a ler partitura. E ele teria me ensinado com prazer. Além de eu ter aprendido a tocar meu bandolim, eu teria passado muito mais tempo com meu avô. E teria sido um tempo mágico. Mas eu nunca pedi. Eu nunca sequer manifestei minha vontade de aprender a tocar bandolim simplesmente porque esta vontade não existia. Eu não percebia que estava diante de uma oportunidade única. Mas também não podia perceber. Eu era criança. E meu avô não podia imaginar que eu no futuro poderia sonhar em aprender a tocar bandolim, ainda que isto custasse minhas longas e lindas unhas vermelhas.

A lembrança do bandolim inevitavelmente conduz à lembrança de meu avô e no tempo em que morávamos em Diamantina. Sinceramente, nem sei se nós morávamos lá, mas vivíamos lá. Isto é verdade. E eu me pego na lembrança de um quarto com uma mesa grande, pedaços de papel pardo, réguas, esquadros, lápis 2B e tesouras. Havia também linhas, agulhas, botões, aviamentos. Vovó costurava. Lembro-me de minha mãe contando que suas roupas eram feitas por vovó. Ou adaptadas. Houvera uma época em que meus avós passaram muitas dificuldades e as roupas eram sempre maiores, precisavam ser ajustadas, passavam dos mais velhos para os mais novos. Não vivemos mais esta realidade. A vida vem sendo cada vez mais generosa com minha família. Mas eu gostaria de fazer eu mesma as minhas roupas. Só que eu não pedi minha avó pra me ensinar a costurar... então ela não me ensinou. E agora não pode me ensinar mais. Meu avô também costurava. Mas não eram vestidos, eram ternos, calças, coletes. E para ele eu também não pedi. Enfim, eu poderia ter aprendido a costurar tudo que hoje eu gostaria de vestir. Mas eu não sei costurar. E não sei por que não pedi a meus avós para me ensinarem, embora tenha certeza de que eles o fariam com o maior carinho. Não é que eu não desse valor ao trabalho deles. Eu simplesmente não tinha condições, naquela época, de perceber a beleza daquele trabalho. Não tinha maturidade o suficiente para compreender que aprender a costurar seria muito mais que uma máquina de costura, tecidos, linhas e tesouras. Minha idade não permitia ver além, não permitia perceber o quão importante seria aquela convivência.

Enfim, a vida é assim. Não tive maturidade para aprender no momento em que a oportunidade batia à minha porta. Tenho certeza de que perdi momentos incríveis com pessoas queridas. Lastimo não ter tido esta percepção antes. Mas acredito que conseguir perceber estas coisas hoje já me faz uma pessoa melhor e me dá a certeza de que ainda perderei muitas outras oportunidades se eu não passar a dividir melhor meu tempo e a minha atenção. E esta certeza faz com que eu preste mais atenção em coisas que nem sempre são facilmente perceptíveis.


Larissa tem certeza de que ainda aprenderá a tocar bandolim e a costurar. E tem mais certeza ainda de que há muito o que se aprender, com pessoas queridas que estão muito mais próximas do que imagina.
(*) Este post é dedicado ao Marco, blogueiro assíduo, que tem sido uma espécie de muso rsrs

29 maio 2008

Que Rufem os Tambores!!!


Meninos, eu vi!!! Quem não se lembra deste bordão? Acho que era Juca Pirama, nem me lembro mais. Mas, creiam-me, eu vi com estes olhinhos que a terra um dia há de comer acontecerem todas as histórias que compõem O Triângulo das Bermudas! Quero dizer, pelo menos ouvi muito, né? Já que irmã mais velha tem que servir pra alguma coisa além de apanhar potes em lugares mais altos e exercer poder de polícia enquanto mamãe não vem.

Quem achar que já viu de tudo, prepare-se para se surpreender. Porque tem coisa que se eu não tivesse, visto, ouvido e até participado, eu não acreditaria. Não é à toa que eu mesma, num momento de perplexidade, dei este nome à ... hum... como direi? É......... Vida amorosa? Não é bem este o nome... bem, às aventuras da minha irmã. Foram barcos, botes, canoas, navios inteiros afundando!!! Só podia ser o Triângulo das Bermudas mesmo.

Com vocês Camila Hardt e o Triângulo das Bermudas!!

Enjoy yourself!!


Larissa acompanha de perto as aventuras no Triângulo das Bermudas. Às vezes sente vontade de matar, outras de torturar com requintes de crueldade, mas na maioria das vezes tem vontade é de fazer picadinho mesmo dos canalhas que atravessam o caminho da sua irmã.

25 maio 2008

I'm back!!

Há exatos vinte e um dias eu praticamente implorei por comentários nos meus posts. Usei toda sorte de artifícios, fiz chantagem emocional barata, confesso que beirei as raias da apelação. Tudo por comentários em textos que desde então eu não escrevo!!! Lei de Murphy. Dá vontade de enfiar a cabeça num buraco, igual avestruz, ao ler os últimos comentários.

E agora, cá estou eu tentando me redimir. Fico me lembrando da música de Nelson Gonçalves (adaptada, logicamente): blogsfera, aqui me tens de regresso e suplicante eu te peço a minha nova inscrição!!! Ela voltou!! A blogueira voltou novamente!! Chega de desorganização, de desculpas esfarrapadas de falta de tempo. Como diria Roberto Carlos, eu voltei e vim para ficar!!

Larissa escreveu este post curto porque está assistindo jornal e as idéias estão dominando seus pensamentos. Daqui a pouco ela volta com mais.

04 maio 2008

Que Frustração ou Porque as Pessoas Não Comentam

Uma das coisas que mais me agradou quando entrei na blogsfera foram os comentários nos posts. Gostei da troca de idéias, de ver o que as outras pessoas estão pensando, conhecer gente, ler textos bacanas, participar de muita coisa, é tudo muito bacana. Gostei tanto que acabei fazendo um blog só meu, pra abrir meu coraçãozinho, mas não sem desejar que este novo blog fosse bastante visitado e comentado também. Só que, como a princípio o blog seria meio divã, não divulguei muito, entrei em alguns blogs que eu já conhecia e fui me apresentando. As pessoas retribuíram minhas visitas e com o passar do tempo o blog passou a receber mais visitas de outras pessoas. Pra saber quem me visitava, instalei o HiStats e fui acompanhando a visitação do blog. Aí que eu tive uma surpresa. Apesar dos poucos comentários, o blog até que estava sendo bem visitado se considerado o fato de não haver sido divulgado de verdade. Aí eu fiquei pensando: porque será que as pessoas visitam, mas não comentam? Porque se tem uma coisa que estimula o blogueiro são os comentários dos visitantes, oras!! Confesso que meu blog não está saindo como eu esperava. Meu plano era postar diariamente, mas não estou conseguindo. Primeiro porque andei por um inferno astral bastante longo e achei que o blog estava ficando muito deprê, coisa que eu não queria. Depois, foi porque acabei me envolvendo com um novo trabalho e ainda estou mesmo em fase de adaptação. Ando tendo que chegar em casa e continuar estudando pra conseguir dar continuidade ao trabalho já iniciado sem gastar tempo demais. Mas tenho me esforçado pra conseguir postar mais freqüentemente, porque blog que só tem post novo uma vez na vida e outra, na morte não tem graça. Cansei de parar de visitar blog porque nunca tinha novidade nele. Então às vezes eu fico até tardão escrevendo, acordo tonta de sono, mas continuo alimentando o blog. Adoro escrever, mas dá tanta frustração a gente postar e não ver comentários... A falta de comentários provoca muitas perguntas no blogueiro. Será que o texto está uma porcaria? Será que é timidez? Será que as pessoas não gostam de dar opinião? Será que as pessoas acham que não podem comentar por ser um blog pessoal? Ah, nem, gente!! O texto está uma porcaria? Digam que tá uma porcaria. Deixem a timidez de lado, dêem sua opinião (opinião cada um tem a sua, não tem que concordar comigo – agora mesmo eu tô aqui me perguntando como é que um time perde de cinco num clássico em final de Estadual e o porcaria do técnico não cai), o blog é pessoal, mas tem coração grande pra receber os amigos. Mas não deixem de comentar, nem que seja só um oi, só pra mandar um beijo, porque o alimento do blogueiro são os comentários de seus visitantes.

Larissa é blogueira assumida, vai continuar tentando atingir a meta de escrever todo dia e gostaria que todos os visitantes deixassem um comentário, nem que seja falando que não comenta porque não gosta hehe

27 abril 2008

Dinheiro, Luxo e Lixo



Sempre gostei de dinheiro. Quero dizer, das coisas que o dinheiro pode proporcionar. Gosto de conforto, de ter carro, morar em um apartamento bacana, poder usar roupa de grife, ganhar jóia de presente de aniversário, dar presente bacana pras pessoas que eu gosto, ir a bons lugares, viajar, viajar e viajar. Isto tudo custa muito dinheiro e, como não nasci, nem sou rica e dinheiro não cai do céu, custa muito, muito estudo e depois, muito trabalho, muito esforço, muito empenho mesmo e sorte. O fator sorte não pode ser ignorado. E nunca escondi de ninguém isso. Porque é verdade que eu prefiro ter um único brinquinho de ouro do que quinze brincos de bijuteria, um sapato de qualidade, do que dez sapatos da feira hippie, uma bolsa de couro do que sete bolsas de “couro sintético” (que lá na roça de onde venho a gente chama de plástico mesmo). Prefiro viajar só uma vez no ano inteiro, por pouco tempo, mas prum lugar legal, sem me preocupar com os gastos, do que viajar todo feriado, pra praia de mineiro no Espírito Santo, com dinheiro contado. Mas tem gente que pensa exatamente o contrário. Quem sou eu pra discutir. Cada um tem um gosto.

Mas, por outro lado, este meu gosto nunca foi respeitado. Fui tachada de patricinha, de burguesa, de metida a besta várias vezes na minha vida. Às vezes era porque eu estudava em boas escolas (mamãe investiu tudo que tinha na nossa educação), outras porque eu sempre andava arrumadinha (minha vaidade antecede minha concepção, tenho certeza) e comentava o que tinha passado no jornal. E, sinceramente? Nunca me abalei. Só uma vez perdi a compostura, quando uma menina me encheu tanto o saco me chamando de burguesa, que não me contive e falei: olha, você devia procurar saber do que está me chamando, porque burguesa é você, filha de comerciante, mas se você me acha “burguesa” só porque eu estudo em escola boa e não gosto de feira hippie, eu te digo que não, infelizmente não sou burguesa, mas se eu tivesse grana, aí sim você saberia o que é ser burguesa de verdade. Acho que ela não entendeu. Mas pelo menos parou de me encher a paciência.

O tempo foi passando e percebi que aquelas pessoas que me chamavam de burguesa, patricinha e metida a besta começaram a usar as mesmas roupas que eu usava, começaram a se preocupar com a aparência, começaram a vestir roupas e sapatos que certamente não eram da feira hippie, compraram carro, mudaram pra “zona sul”, começaram a viajar (algumas vezes para lugares de gosto duvidoso, é verdade, mas não deixa de ser viagem). Passaram a fazer tudo que eu desde há muito tempo já admitia que era doida pra fazer e já fazia quando tinha oportunidade e o dinheiro permitia. Mas percebi também que estas mesmas pessoas, apesar de estarem usufruindo dos confortos que o dinheiro pode oferecer, não admitiam que gostavam dos prazeres proporcionados por ele (embora fosse evidente que não compreendiam exatamente o que significavam estes “prazeres”). Vestiam-se com roupas de qualidade não por vaidade, mas sim por exigência da profissão, iam a bons restaurantes não porque eram lugares badalados, mas sim porque pessoas sérias e bem sucedidas – leia-se, ricas – iam lá e eles não podiam freqüentar um lugar qualquer. Trocavam de carro todo ano não por consumismo, mas sim porque o carro estava ficando velho, já tinha mais de dez mil quilômetros rodados, já estava dando despesa demais com manutenção. Mudaram-se para regiões nobres da cidade só porque era mais perto do trabalho. Desculpas esfarrapadas pra não admitir que a vida havia, com muito esforço, trabalho e uma dose de sorte, lhes permitido melhorar suas condições financeiras, ter mais conforto, enfim, “aburguesarem-se”.

Eu não, continuei gostando das coisas que já gostava antes. A diferença é que antes, estudante de escola técnica, não tinha condições de usufruir daqueles prazeres mundanos. Mas depois, já adulta, assumi meu lado mais terreno e, dentro do possível e do razoável, dou-me sim a pequenos luxos de vez em quando. Não tenho vergonha de dizer que gostaria de usar Prada com P maiúsculo, mas que, como não posso, também me recuso terminantemente a usar prada com p minúsculo. Tecido chinês que queima e brilha ao ser passado, não!!! Pelo amor de Deus, ninguém merece!!! Mas quando expresso estes meus, digamos, sentimentos, vejo olhares voltando-se para mim como se eu tivesse atirado uma menininha de seis anos pela janela do sexto andar. Estes mesmos olhos que me condenam, vestem roupas de grife, saem de carros de luxo, estão almoçando na mesa ao meu lado, no mesmo restaurante. Eles também gostam dos prazeres que o dinheiro proporciona, mas não admitem, sequer sabem o que consomem. Condenam-me por expor como somente meus os seus próprios pensamentos, aqueles que teimam em esconder. Observo que a maioria das pessoas tem vergonha de admitir que gosta de dinheiro, que gosta do que o dinheiro pode proporcionar. E sinceramente, não entendo por quê. Aí me pego pensando que este pessoal deve estar roubando ou vendendo drogas, fraudando o Governo, sei lá, fazendo alguma coisa desonesta pra ter dinheiro. Não faz sentido ter vergonha de admitir que se usufrui do fruto do próprio trabalho se ele for honesto e digno como devem ou deveriam ser todos os trabalhos.

Mas o mais engraçado é que estas mesmas pessoas não têm vergonha de contar que foram à Europa e não visitaram nenhum museu, mas que voltaram com as mãos cheias de sacolinhas da duty free. Não têm vergonha de contar que não estudam porque estudar não leva a nada, que eu estudei a vida toda e não tenho nem metade do dinheiro que eles torram todos os anos nas férias. As mesmas férias, sempre nos mesmos lugares, sempre com as mesmas pessoas, sem que nada lhes seja acrescentado. Não têm vergonha de contar que na casa deles não há livros, a não ser aqueles que a decoradora insistiu em colocar sobre a mesa de centro pra dar um ar “culto” ao ambiente gritantemente ignorante. E tampouco se constrangem em usar estes mesmos livros como suporte de copos molhados, deixando respingar gotas de um vinho que bebem porque alguém lhes disse que é “chique” e confessando que nem gostam de vinho. Ficam lá, comendo sushi com cara de quem come picanha, porque leram em algum lugar que sushi é in e carne vermelha é out, mas sequer procuram no dicionário o significado destas palavras.

Estas pessoas têm conseguido ganhar mais dinheiro do que eu, a despeito de todos os meus esforços, de tanto trabalho, e conseqüentemente, conseguem usufruir de luxos que eu não posso e nem sei se poderei usufruir algum dia. Mas não os invejo, o tempo passou e já tenho dúvidas se realmente gosto tanto de dinheiro assim, este tanto que permite o exercício de luxo de verdade. Trocaria de bom grado usar Prada com P maiúsculo por mais tempo livre para ler os livros que ainda não li, assistir os filmes que ainda não assiti, visitar os muitos lugares que ainda não conheci. Trocaria sem sombra de dúvidas a ostentação da riqueza pela segurança da moderação e pelo conforto do anonimato. Sim, eu continuo gostando de dinheiro e das coisas que ele pode me proporcionar, mas cada vez mais contento-me com menos do que sonhei na minha adolescência, porque a cada dia que passa, olho em volta e vejo que cada vez mais as pessoas usam o dinheiro para ter e não para ser e constato, com tristeza, que a mediocridade anda acompanhando o dinheiro.



Larissa é vaidosa, se acha bonita, gosta de se cuidar, de se vestir bem, de ter conforto; mas gosta muito mais de cuidar da sua cabeça, de conversar com pessoas que tenham conteúdo e de alimentar sua fome de conhecimento do mundo e das pessoas, e sabe que para isto vai ter que abrir mão de algumas coisas.

22 abril 2008

Tempo, tempo, mano velho

O tempo. Sempre culpa do tempo. Nunca culpa minha, que ando tendo dificuldades em administrar meu tempo. Como sempre, meus dias andam curtos, minhas noites, mais ainda. Sempre achei que tenho menos tempo do que preciso pra fazer tudo que quero. Mas eu juro que esta semana eu vou parar. Vou me organizar melhor e vou voltar a escrever aqui todos os dias. Está me fazendo bem demais. E não abro mão de canalizar tanta energia pra escrever. Sejam poucas ou muitas linhas.
Larissa decidiu administrar melhor seu tempo e vai achar a medida certa pro trabalho, estudo, marido, cachorro, família, amigos, corrida, leitura e pra So Hardt que tem sido tão companheiro.

11 abril 2008

Mais Duas Meninas

Conhecemo-nos na infância mas acabamos perdendo contato com o passar do tempo. Encontramo-nos novamente na faculdade. E voltamos a ser amigas. São histórias demais pra contar. Foram anos intensos e divertidos aqueles. Acabou a faculdade, mas não acabou a amizade. Adultas, não deixamos a amizade se diluir no tempo.

Morávamos no mesmo bairro, gostávamos de jogar conversa fora, de discutir o que se passava ao redor do mundo, de dividir os dilemas, os sonhos, de falar da vida alheia, de comentar sobre aquele novo filme, trocar idéias sobre livros lidos, filmes assistidos e as promoções das nossas lojas preferidas. Embora não tivéssemos a intenção de escolher um lugar especial para nossas verborréias, isto acabou acontecendo. Era inevitável. Nenhum lugar é mais propício para o exercício do ócio e da maledicência do que uma mesa de bar, com os apetrechos indispensáveis para que a criatividade e o cinismo se façam presentes: cerveja gelada e tira gosto. E guardanapos, muitos guardanapos, que tínhamos horror a mãos e mesa sujas.

Era engraçado porque como íamos ao mesmo bar pelo menos uma vez na semana, as garçonetes nos conheciam pelo nome e já sabiam o nosso gosto. Nossas mães estavam quase nos levando ao A.A. Confesso que houve muitos momentos regados a coca light SEM RUN, mas nossas mães não acreditavam nisso. Mas nossos precedentes estudantis não autorizavam. Mas é verdade que na maior parte das vezes nossa aparente entorpecência derivava de endorfina, e não de álcool em excesso, de tanto que a gente ria da gente mesma, de tudo e de todos. Havíamos acabado de nos formar e todos sabem a nostalgia que dá neste momentos. Às vezes nos esquecíamos de que não estávamos no Rock Bar matando aula. E como eram bons estes dias!!

Continuamos nosso ritual – cada vez mais regado a coca light e menos regado a run – até eu me casar, há mais de dois anos atrás. E como eu sentia falta de poder ligar pra minha amiga em plena terça-feira e dizer simplesmente: e aí? Era a senha pra verborréia na mesa do bar. Preciso fazer uma confissão que pra muitos pode parecer vexamosa, mas que pra mim nunca foi (apesar de eu só admitir de uns anos pra cá): NUNCA TIVE VERGONHA DE TOMAR UMA (OU DUAS, OU TRÊS...) CUBAS LIBRES OU CERVEJAS EM PLENO DIA DE SEMANA!! E a vida me concedeu a graça de ter uma amiga que pensa como eu.

Aí, quando ela decidiu passar um tempo fora do país, nos encontramos pra mais uma verborréia, que foi a penúltima antes dela viajar. Minha amiga, você não faz idéia do bem que aquele dia me fez!! Me trouxe de volta tanta lembrança boa!! Matou a saudade que eu tinha da época em que morávamos no mesmo bairro e as verborréias eram mais freqüentes (e menos responsáveis). Lembrei-me daquela malsinada quinta-feira em que bebemos juntas dezessete cubas-libres e fomos embora, trôpegas, sem pagar!! Depois de eu ter telefonado umas duzentas vezes pro meu namorado, dizendo que ele não me amava!! Até hoje não sabemos quem bebeu uma cuba a mais. Nem como não morremos de vergonha de ter que voltar lá pra pagar a conta no dia seguinte. Quer dizer, no outro dia ainda, porque a ressaca não permitiu que eu me levantasse naquele dia. E nem como é que tive aquele surto psicótico do “ele não me ama mais”. Que cômico!! Conto esta história feliz e sem constrangimentos porque estes pileques não eram freqüentes. Na realidade, em dia de semana, que eu me lembre foi só aquele mesmo. Até agora, porque voltei pra casa alegrinha de dar gosto. E era quinta-feira.

Na véspera da viagem, fui almoçar com minha amiga. Era a verborréia-saideira. Combinamos meio dia no mexicano. Chegando lá, dei de cara com um frozen maguerita!! Eu ia pedir uma coca zero (já não anda tendo coca light no mercado), mas fiquei com vergonha e acabei pedindo um frozen pra mim também. Afinal, companheiro é companheiro, fedaputa é fedaputa. E minha mãe é uma senhora de muito respeito, de modos que não tive alternativa além de encarar o frozen marguerita. Lancei-me ao sacrifício. Vieram dois frozen margueritas e pudemos ver os olhares invejosos: era sexta-feira, meio dia. Alguma vantagem tem que haver de você estar perdido na vida, sem trabalho e estudando pra concurso! Eu havia decidido me dar aquele dia de folga e só não me esbaldei porque não atinei de deixar o carro em casa. Afinal, quem bebe não dirige, quem dirige não bebe.

Bom, minha amiga já está em Londres tem quase uma semana. Ela me escreve todos os dias. E mails curtos; ela não é verborrágica na linguagem escrita como eu. E eu estou aqui morrendo de saudade dela e esperando o dia que ela vai voltar pra gente poder exercitar o ócio novamente. Estes dois encontros foram diferentes dos últimos, foram muito especiais. Trouxeram de volta pra mim alguma coisa boa, muito boa, que eu não sei explicar. Acho que são as cores voltando!! E a alegria que dá a certeza de que já temos muitas histórias pra contar!!


Larissa sabe que beber “até perder a dignidade” não é legal, mas acha que um álcoolzinho de vez em quando, além de não fazer mal a ninguém, produz boas histórias pra contar na posteridade.

As Duas Meninas

Tinham quatorze anos aquelas duas meninas. Uma era mais esperta, a outra, mais bobinha. Mas eram ambas adolescentes e a adolescência é uma fase de formação, de amadurecimento, e, claro, de muitas dúvidas, dilemas, angústias, tormentos. É a época em que se vive os extremos: a vida é maravilhosa ou a vida é um completo caos. Ficaram na mesma turma do colégio e acabaram ficando amigas. Muito amigas.

Juntas, descobriram a música, o violão, o Clube da Esquina. Juntas, passaram aperto em matemática, odiavam educação física, gostavam de cantar, de ler e de escrever poesia. É bem verdade que o canto e a música faziam mais parte do mundo de uma delas. Mas a literatura e a redação também faziam mais parte do mundo da outra. Tomaram os primeiros porres juntas. E uma sempre estava perto quando a outra precisava de ajuda.

Acabou o ano e as meninas se separaram. Era uma escola técnica e cada uma escolheu um curso. Cada uma foi pra uma sala diferente. Engana-se quem pensa que houve também a separação da amizade. Estar em cursos diferentes evidenciou diferenças, mas não as distanciou. Houve momentos em que as meninas estiveram sim um pouco afastadas, mas muito mais pelo curso do que pela diluição da amizade. Continuaram amigas. E pelo menos uma delas achava que o que as mantinha unidas era o amor pela música, pelo teatro, pela literatura e a completa aversão pela educação física!

No terceiro ano distanciaram-se um pouco mais. Cada uma tinha seus interesses, seus objetivos, mas só em sala de aula. Do lado de fora, nos intervalos, lá estavam as duas, sonhando com um futuro onde as pessoas seriam sempre felizes. Naquela época, as meninas, então com dezesseis anos, ainda acreditavam que haveria uma revolução cultural e que as pessoas se tornariam mais sensíveis. As meninas já não acreditavam tanto que poderiam mudar o mundo, mas tinham certeza que iam tentar sempre.

Uma das meninas foi embora. Mudou-se para o outro lado do mundo. A menina que ficou escreveu à mão em algumas folhas de caderno a letra inteirinha de “Meu Caro Amigo” e mandou pra que estava longe. Ainda era o tempo das cartas. Foram poucas, é verdade. A menina que estava longe ficou enfurecida, mas voltou e encontrou a outra a esperando com o violão na mão. Escrever aquela música tinha até doído a mão. Naquele dia cantaram e tocaram até tarde da noite e ambas perceberam que muita coisa havia mudado naquele ano de distância. As meninas haviam mudado muito, estavam menos adolescentes, estavam mais amigas.

Mas a vida novamente acabou separando as duas meninas. Cada uma morando em uma cidade, ambas trabalhando de dia pra estudar à noite, sempre muito cansadas. Falavam-se por telefone, mas isto passou a acontecer apenas duas vezes por ano: nos aniversários. Encontraram-se algumas vezes, claro. Havia as festas de ex alunos e elas combinavam de se ver lá. Divertiam-se, riam muito, lembravam dos tempos da adolescência e iam embora, cada uma pro seu lado. Quanto riso, quanta lágrima!! Mas o fato é que se afastaram...

Muita coisa aconteceu durante o período em que as meninas estiveram afastads. Tinham notícias uma da outra por amigos comuns, pelo orkut, às vezes por e mail. Uma das meninas era muito mais relapsa que a outra; ligava menos, escrevia menos. Mas sonhava muito. E muito alto. Sonhava com a harmonia entre os homens, com a paz, com a alegria. A outra menina se casou, conseguiu um bom emprego e mudou-se para o interior de vez. Voltaram a se encontrar no casamento de uma delas, a que jurara pra si mesma nunca se casar. Coisas da vida. Separaram-se novamente depois de um abraço forte e sincero. Uma das meninas teve uma filhinha, que a outra sequer se dignou a ir conhecer. Estava correndo contra o tempo. Sempre o tempo era o culpado. Mas não era só pra menina recém casada, era pra recém mamãe também. E assim a amizade se mantinha, apesar do pouco contato.

Quando a filhinha da menina fez um ano teve uma festinha e a amiga foi. Já havia furado demais, não podia se arriscar mais a perder aquela amizade. Esta menina estava passando por maus pedaços, mas se arrumara lindamente pra comemorar a alegria da amiga. Depois de tanto tempo queria bater papo, jogar conversa fora, colocar a fofoca em dia. Não queria falar de coisas ruins, de problemas, dos dilemas que ainda a perseguiam. E assim foi. As meninas se encontraram e foi muito bom. É verdade que a mamãe era a verdadeira anfitriã e não podia dar atenção exclusiva à sua amiga.Mas pra quê serve a amizade se não conseguir compreender estas coisas? A menina sentiu pesar, mas não ficou triste. Pelo contrário: sua amiga estava tão feliz que só conseguia compartilhar daquela felicidade.

Acabou indo embora à francesa. Aquela festinha de criança havia trazido lembranças e emoções demais pra uma noite só. A menina foi embora feliz, mas com medo da outra ficar chateada por ela ter sumido sem dar tchau. No dia seguinte, pensou em telefonar, mas ia dizer o quê? Enrolou, enrolou e acabou não ligando. Pior, mergulhada nas suas reflexões (que apelidara carinhosamente de revolução existencial interna), esqueceu-se do aniversário da amiga e aí se perdeu. Isto nunca havia acontecido em quase quinze anos. A menina ficou bastante envergonhada, mas também não ligou. Dentro de exatamente um mês seria o seu aniversário e se a amiga não telefonasse, aí ela telefonaria.

Antes que se passasse um mês, num dia difícil, cansativo (culpa da caminhada a que a menina se forçara a praticar), a menina recebeu um e mail da amiga. Na linha de assunto vinha “Preocupada”. E quem se preocupou foi a que recebeu o e mail. Eram poucas e emocionantes linhas. A amiga estava preocupada com a outra porque a achara triste na festinha da sua filha. Perguntou como estavam as coisas, se era stress, cansaço da profissão e terminou pedindo notícias e dizendo que a amava muito, e que o pouco contato não ia mudar aquela amizade jamais.

Aquela mensagem abalou a menina que a recebera. Encheu seus olhos d’água, algumas lágrimas rolaram. Poucas pessoas são capazes de perceber a tristeza embaixo da aparente alegria. A menina já tinha passado pelo pior, já estava na fase da superação. Na festinha da filha da amiga estava feliz por estar lá, não foi necessário nenhum esforço, nenhuma representação. Aliás, a menina era péssima atriz quando seus sentimentos eram verdadeiros. Nem se quisesse conseguiria transparecer o que não era realidade. Ela estava sinceramente feliz sim. Mas as marcas de decepções recentes ainda estavam nos seus olhos, na sua voz, no seu sorriso, no seu riso. Poucas pessoas conseguem perceber as nuances destas mudanças, mas os amigos percebem. E os verdadeiros amigos oferecem seu ombro e seu amparo. Era o que havia acontecido. Nem a correria da festinha, nem aquelas crianças correndo sem parar, os choros, os chamados, as outras pessoas haviam impedido que a menina percebesse a mudança no semblante da outra. Só ela percebeu, mais ninguém. E por isso havia mandado aquele e mail. Por isso oferecia o seu ombro.

A menina leu e releu aquela mensagem curta várias vezes. Pensou em deixar pra responder depois, mas não conseguiu. Quis dizer que está feliz, que conseguiu atravessar um caminho difícil, que ainda não se recuperou das quedas, mas que sabe que aprendeu com elas. Quer dizer que sabe que seu semblante não é mais o mesmo, mas que também sabe que um dia voltará a rir à toa. A resposta a esta hora já deve ter sido lida e a menina está ansiosa esperando a outra escrever outra vez. O dia de voltar rir à toa está próximo, a menina sente isso no ar. E quer que sua amiga esteja por perto pra poder olhar nos olhos dela com a mesma alegria de quinze anos atrás.


Larissa é uma das meninas desta história e acha que isto nem precisava falar. Mas precisa dizer à sua amiga que ela, com suas poucas palavras, suavizou muito uma das marcas que a vida lhe deixou.

09 abril 2008

Solidão

Pouquíssimas vezes na minha vida me senti só. Meu problema sempre foi exatamente o contrário. Muitas vezes precisei ficar sozinha, mas não deixaram. E de tanto ninguém me deixar ficar um pouco sozinha, acabei deixando de perceber quando precisava me isolar e ficar comigo mesma por um tempo.

A duras penas retomei as rédeas da minha vida. Pelo menos dentro da minha cabeça. Andei ficando sozinha meio que na marra. Tive que me afastar um pouco das pessoas, mesmo das que eu mais amo. Foi difícil, mas acho que valeu a pena. Parei, refleti, tomei decisões. Infelizmente não sobre o que eu quero, mas pelo menos sobre o que não vou fazer da minha vida. E já acho isto um grande progresso. Aí voltei ao convívio com as pessoas. Voltei melhor, meio perdida, mas com certeza mais feliz. Abdiquei novamente da solidão.

Mas esta semana estou só. E estou passando por uma experiência que tem me feito ter certeza de que eu soube definir bem minhas prioridades de vida. Decidi viver plenamente ao invés de me proteger o tempo inteiro desde muito nova. Tenho dúvidas se foi mesmo uma escolha consciente. Tenho dúvidas sequer se foi uma escolha. Na realidade, nunca tive medo de quebrar a cara. Eu acreditava que este medo ia acabar surgindo com o passar do tempo. Descobri que até hoje este medo não surgiu em mim. Estou à beira dos trinta e um anos e feliz de verdade por ter escolhido viver uma história que tem rendido muito mais bons do que maus momentos. Escolhi não viver sozinha.

Desde que me casei, estou sozinha em casa pela primeira vez. Aliás, minto. É injusto dizer que fiquei sozinha tendo um cachorro atrás de mim cem por cento do tempo em que estou dentro de casa. Mas é diferente. Reconheço o valor da amizade canina, mas é diferente. Bem, o fato é que, então, mesmo com um rabo que balança incessantemente na minha frente buscando minha atenção, eu me senti pela primeira vez na vida muito só.

Comecei a preencher meu tempo livre assistindo filmes. E assisti A Dona da História hoje pela milésima vez. Um diálogo entre presente e futuro me chamou especialmente a atenção hoje, na cena em que se encontram no camarim do teatro:

- Você trocaria tudo isso pelo amor da sua vida?

- E você? Trocaria?

Eu?! Não!! Eu não troco, não!! Nem no presente, nem no futuro. O tempo verbal já diz tudo: futuro do pretérito, o que nunca vai acontecer, vai ser sempre uma hipótese. Eu não troco o amor da minha vida, que eu já encontrei, por nada. Eu não troco ter quem me espere chegar, ter a quem esperar chegar, por nada neste mundo. E nestes dias, que eu cheguei sem ter quem me esperasse, que eu não tive a quem esperar, cheguei a achar que havia descoberto o que é solidão de verdade.

Mas não havia, não. O telefone toca, fico feliz. Não é a primeira vez no dia e tenho certeza de que também não será a última. A voz do outro lado da linha faz com que eu deixe de me sentir só. Sinto um abraço e um beijo. E ao desligar o telefone, vejo que o que eu estou sentindo não é solidão. O que eu estou sentindo é saudade. E esta saudade vai passar. Então eu soube o que é sentir-se só de verdade. Solidão é não ter alguém a quem esperar, é não ter alguém te esperando no sofá; solidão é não ter nem um telefone pra esperar tocar.


Larissa está quase morrendo de saudades do seu marido, mas não se arrepende de não estar junto com ele agora. Sabe que mais forte que a tristeza de deixar partir é a alegria de ver voltar.

23 março 2008

Feiúra

“Estancar o avanço das favelas que não contam com plano arquitetônico nem respeitam os ecolimites. Abrir vias de acesso dentro das comunidades para evitar a verticalização das casas.” Mello Menezes, artista plástico.

Primeiramente eu gostaria de saber se alguém aqui conhece pessoalmente este cidadão.

Porque embora eu transite naturalmente no ambiente artístico e tenha um ótimo relacionamento com as poucas pessoas do meio com as quais convivo, fui assolada por uma antipatia imediata ao ler a resposta deste senhor à questão proposta por Joaquim Ferreira dos Santos em sua coluna: o que fazer para melhorar o Rio.

Parece-me que a única questão relevante no que diz respeito às mazelas do Rio de Janeiro, e ao que pode ser feito para torná-lo melhor, cinge-se à manutenção ou recuperação de suas “belezas” – naturais e arquitetônicas. Foi a impressão que tive ao ler as sugestões apresentadas na coluna, embora a que reproduzi acima tenha-me chamado especial atenção.

Pois bem. Preocupemo-nos com a arquitetura das favelas, sem nos perguntar as razões de sua existência e expansão! Preocupemo-nos com os ecolimites e esqueçamo-nos de que a dignidade do homem faz parte do ecossistema! Preocupemo-nos com a abertura de ruas minimamente largas, para que casebres miseráveis não se empilhem uns sobre os outros e tapemos os olhos para realidade que insiste em nos incomodar. Chega de feiúra, preocupemo-nos com a beleza!!

Mas não nos esqueçamos de que optar pela beleza não resolverá os problemas da feiúra, não tornará o Rio melhor. São feias as favelas? Sim, são feias as favelas, mas há feiúra maior, acredite.


Larissa ficou indignada com a sugestão do senhor artista plástico, que deve viver enclausurado em seu ateliê, ou ter o dom de ignorar a realidade que nos bate diariamente à porta. Certamente seu mordomo não deixa a realidade entrar.

De Volta à Realidade Fantástica

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo.


Em Macondo choveu por cem anos, ininterruptamente. Cem anos de solidão. E So Hardt surgiu porque eu me sentia a maior parte do tempo em Macondo, triste, sozinha, sob a chuva fina, fria, que parecia ter sepultado o sol e o céu azul da minha vida. Achei que escrever me traria de volta à minha realidade, aquela que para muitos é realidade fantástica, já que perderam a fé nas pessoas, nas relações humanas, na alegria. Mas esta que muitos chamariam de realidade fantástica, onde a magia permeia a vida dos homens, para mim será sempre a realidade de verdade.

Enfim, escrever não trouxe o resultado esperado. Comecei a escrever, tentando não só desabafar, mas principalmente resgatar a pessoa que eu era. Não deu certo. Comecei com textos desiludidos, tentei do fundo do meu coração voltar a escrever como antes, busquei palavras mais leves, doces, suaves, porém, não as encontrei onde costumava guardá-las. So Hardt estava ficando hard demais até para mim mesma. Dei um tempo. Coincidentemente, durante este tempo as águas de março se fizeram muito fortemente presentes como há muito tempo não se faziam. E foi como se a chuva de cem anos, fina e fria, da minha Macondo particular caísse toda de uma só vez para que o sol pudesse brilhar no céu azul novamente. Houve sim destruição; as águas são implacáveis, a natureza não se intimida ao mostrar sua força. Mas ficou tudo claro, tudo limpo, sereno. Agora a reconstrução é possível.

Obrigada aos que aqui vieram, sem saber quem eu sou, de onde venho, pra onde vou, e me apoiaram para que eu não desistisse de buscar as minhas verdadeiras palavras. Acho que agora vocês vão poder conhecer a alegria que existe por trás de toda e desta Larissa, que até então não havia mostrado sua verdadeira face.

Sejam bem vindos ao renascer de So Hardt.

Larissa conseguiu atravessar a tempestade com o apoio de antigos e novos amigos. Quando fraquejou e achou que não ia conseguir, o amor a carregou no colo. Ambos se molharam, passaram frio, sentiram medo, choraram e acabaram rindo. Conseguiram voltar à sua realidade, mais fantástica do que quando começaram a caminhada.

13 março 2008

De Novo. Ou melhor, ainda...

Aí!!
Os espaços entre os parágrafos não aparecem!! Fica tudo juntinho!! Ruim de ler...
Tenho que resolver logo este problema entre a cadeira e o teclado antes que as pessoas comecem a achar que isto é um atestado de debilidade mental!!

Tá Quase

A inspiração voltou. Junto com ela vieram muitas outras coisas. Tenho tanto que falar!!
Ainda não vai ser hoje que vou poder sentar e colocar este espaço em dia. Ainda estou na correria.
Mas tenho fé que até segunda eu consigo parar. Aí vou escrever até os dedos endurecerem no teclado.
Preparem-se!! Larissa em breve estará de volta!! Só que muito melhor, muito mais ela mesma!!

29 fevereiro 2008

For Dummies

ALGUÉM PODE ME EXPLICAR PORQUE É QUE TEM DIA QUE A FORMATAÇÃO DO BLOG SIMPLESMENTE NÃO FUNCIONA APESAR DE EU FAZER IGUALZINHO TODA VEZ QUE EU POSTO?!!

Um tempo, dois tempos

Andei uns dias sem conseguir escrever nada. Falta de inspiração não era. Estava às voltas com uma monografia sem fim, mas que está finalmente quase pronta pra ser entregue. Acho que trabalho acadêmico é igual obra. Uma amiga engenheira que fala isso: obra não fica pronta, obra você entrega. Falta pouco. Até segunda sai.
Também não ando muito legal. Eu sabia que me recuperar da canalhice que me fizeram seria difícil. E está sendo muito difícil mesmo, apesar de tanto apoio, de tanto ombro amigo, de tanto abraço apertado. Sei que não posso me entregar, me deixar abater, mas tem dia que simplesmente não dá. Tem dias que eu ainda preciso chorar pra não morrer sufocada. Chorar de verdade, de molhar a cara toda, soluçar, embaçar os óculos, borrar a maquiagem e ficar com a cara inchada e vermelha. E algo me diz que as lágrimas não secarão tão cedo.
Larissa fez este blog num momento difícil demais da sua vida justamente pra poder desabafar. Mas acabou se afeiçoando ao blog e não quer mais ficar escrevendo coisas tristes e doídas porque ela não é triste, nunca foi. Quer voltar a ser quem era, escrever coisas alegres, para que as pessoas que visitam o blog a conheçam como ela é de verdade.

21 fevereiro 2008

Vergonha Nacional

Afora toda a bandalheira que vem acontecendo neste país nos últimos anos (e não apenas nos últimos seis), uma questão que pode parecer singela à primeira vista chega a me fazer sentir saudades de FHC e D. Ruth: educação, em todos os aspectos possíveis e imagináveis.

Até a posse do Presidente Lula, NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS um dirigente envergonhou tanto seu povo com as pérolas que diz e as asneiras que faz. Eu já estava até disposta a relevar o fato de o Presidente ter se esquecido que as instituições democráticas de um país não têm partido político ao colocar no jardim do Palácio UMA ESTRELA DO PT, até o mesmo digníssimo senhor usar um PIN DO PT em viagens internacionais, a priori, de cunho diplomático. Quebra de protocolo parece ser um marco no mandato do atual Presidente: basta colocar nas ferramentas de pesquisa da internet “Lula” “quebra de protocolo”. Aproximadamente 113.000 resultados para a pesquisa dos parâmetros informados.

Como se não bastasse o constrangimento – e cutucão público e amplamente divulgado pelos meios de comunicação internacionais do Chefe de Estado anfitrião – causado ao dizer, em discurso na Namíbia, que ESTAVA IMPRESSIONADO COM O PAÍS, QUE NEM PARECIA QUE ESTAVA NA ÁFRICA, o Presidente eleito por uma maioria da qual orgulhosamente não faço parte tampouco se constrangeu ao afirmar, em NOVA YORK, que O BRASIL SÓ NÃO FAZ FRONTEIRA COM CHILE, EQUADOR E BOLÍVIA.

O que dizer do BRINDE à felicidade do PRESIDENTE SÍRIO AL ASSAD, que compreensivelmente permaneceu sentado e não ergueu a taça, esquecendo-se o Presidente que muçulmanos não ingerem álcool? Parece-me que também se esqueceu de que não existe um CONTINENTE ÁRABE para, no século XXI, junto com o continente sul americano, não esperar ser descoberto.

Em reunião com Chefes de Estado em LONDRES, onde o regime é parlamentarista e o mandato do primeiro-ministro não tem prazo para acabar, afirmou que “EM DOIS OU TRÊS ANOS possivelmente não estaremos aqui, talvez sejam outros. E NEM SERÁ O TONY BLAIR QUE ESTARÁ CONVIDANDO, SERÁ OUTRA PESSOA". Não satisfeito, sempre dá apoio EXPRESSO e INCONDICIONAL a HUGO CHAVÉZ, um dos maiores débeis mentais da atualidade, a quem o Rei Juan Carlos da Espanha acabou mandando CALAR A BOCA. Virou estampa de camiseta, não sem razão.

Aliás, tenho que admitir que se há neste mundo um povo que passa tanta ou mais vergonha que o brasileiro quando se trata de Chefe de Estado, é o povo venezuelano. Ninguém merece ver o Presidente do seu país pondo a cara na TV em rede internacional pra falar asneiras deste naipe:

"Esse é um gesto de desprendimento pessoal que o enaltece. Isso é uma lição para aqueles que o acusam de ter se aferrado ao poder desesperadamente." (Hugo Chávez, presidente venezuelano, sobre a renúncia de Fidel Castro, que passou 49 anos no comando de Cuba, em 19/02/08)

Como também não poderia deixar de ser, o Brasil tem uma primeira dama à altura do Presidente: em visita à França, a primeira dama não se dignou a VISITAR O LOUVRE. Preferiu sair às compras, em época em que falar em CARTÃO CORPORATIVO era assunto meramente administrativo, e não manchete de jornal.

Faço minhas as palavras do Coltrane (www.resistindo.com.br):

Racha minha cara de vergonha! Cachaceiro burro e miserável!


Larissa chega a achar que talvez devêssemos agradecer aos céus por ainda não estarmos com todas as relações diplomáticas cortadas, completamente banidos do mundo conhecido e habitado pelo homem, mundo dito civilizado.

20 fevereiro 2008

Alunos e Professores: uma relação de amor e ódio

Demorei muito a admitir isto pra mim mesma, mas o fato é que eu adoro estudar, adoro estar na sala de aula, se pudesse, fazia curso de tudo que há. Freud explica porque eu não admitia que gosto de estudar, mas o fato é inegável. Ninguém mete a cara pra fazer pós-graduação sem ter renda fixa do jeito que eu fiz se não gostar muito de estudar.

Tive professores excelentes na pós-graduação. Mas é claro que sempre tem aquele com quem você não se dá bem. E obviamente, eu não fujo à regra. E parecia que tudo conspirava pra eu ter um confronto com aquele professor. É verdade que já fui meio implicada com o sujeito porque tenho uma péssima experiência com professores-estrela. Professores-estrela são aqueles que têm pós-pós-doutorado em alguma coisa praticamente incompreensível para os reles mortais, falam quinze línguas fluentemente, escrevem livros e mais livros usando a mesma linguagem incompreensível da tese de pós-pós-doutorado e um único manual com linguagem palatável. E este manual simplesmente se esgota em questão de segundos a cada vez que é reimpresso ou reeditado: o cara ainda fica rico, se já não era. Aí eles acabam se achando o último biscoito do pacote e tomam a sua (eventual) ausência na aula deles como ofensa pessoal. Pra estes, a única justificativa plausível para alguém matar a aula deles é estar sendo sepultado. E o meu era destes.

Dei o azar de na primeira aula dele, que nem foi num dia regular da pós-graduação, eu estar em São Paulo a trabalho. Não tinha jeito, não dava pra voltar, assistir a aula e depois pegar outro avião pra voltar pra São Paulo. Matar a aula era a opção mais razoável, então, matei sem remorsos. Na semana seguinte, tomei o cuidado de sair mais cedo do trabalho pra não me atrasar pra aula do fulano, já que eu havia sido alertada que ele era cheio das gracinhas. Evidentemente, caiu uma tromba d’água, o trânsito que já é caótico conseguiu ficar pior e eu me atrasei quinze minutos. Corri na esperança dele também ter sido pego pela tromba d’água, mas qual é. A porta já estava fechada quando cheguei. Calcei a cara e entrei, né, fazer o quê? Pagando mil contos por mês pra ter aula duas vezes por semana, eu não ia me dar ao luxo de perder a aula toda por causa de quinze minutos de atraso. O cara me olhou feio, mas não falou nada. Mas fez expressão de quem diz: depois a débil mental é reprovada e reclama que o professor é ruim.

Desde então, o universo começou a conspirar pra eu ter toda a sorte de imprevistos nos dias da aula do fulano. Na aula seguinte, lá estava eu previdentemente nos arredores do instituto uma hora antes da aula começar, quando meu celular tocou. Era uma amiga, simplesmente arrasada, chorando aos cântaros, porque tinha recebido um e-mail babaca do babaca do ex-namorado dela dizendo que reconhecia o quão babaca ele havia sido com ela e que era tão babaca que não tinha coragem de falar isso com ela cara a cara. Ela me perguntou se eu estava perto do instituto e se podia encontrar com ela (ela trabalha lá perto). Não tinha jeito, mais uma aula do camarada estava fadada, no mínimo, a um atraso. Mas eu não ia abandonar minha amiga naquela situação.

Tive a brilhante idéia de ligar pro meu namorido ir se encontrar conosco – ele é amigo dela também – pra ele ceder o ombro amigo enquanto eu assistia à aula de Átila, o Huno. Mesmo assim, atrasei meia hora. Pus o pé na sala e ouvi: “pelo visto você não tem muito compromisso com o curso”. Como assim não tenho compromisso com o curso?! “Pelo visto o senhor deve ter algum recalque se não ser juiz pra estar me julgando assim sem me conhecer”. Sentei e fiz de conta que nada tinha acontecido. Como Murphy impera, o fulano tava justamente falando sobre uma matéria que eu tinha uma dúvida e, claro, o ponto já havia sido abordado. Enfiei o rabo entre as pernas e assisti à aula caladinha, afinal, tava errada mesmo. Quando deu a hora do intervalo, o professor fala:”turma, quem tiver alguma dúvida, estou à disposição”. Bem, achei que valia a pena ir lá expor minha dúvida, mesmo sabendo que corria o risco de levar uma patada. E até porque “turma” me incluía.

- Boa noite, Professor, eu tenho uma dúvida. (cara constrangida)
- Pois, não. Qual é a sua dúvida? (cara solícita)
- Mas se a rebimboca da parafuseta for usada desta forma, não corre o risco de explodir tudo? (cara de pau)
- Eu expliquei este tópico, mas a senhorita não estava em sala. (cara cínica)
- Senhorita, não, senhora, porque eu sou uma mulher casada!! (cara de puta da vida)


A guerra estava declarada.

Na aula seguinte, um sábado, cheguei cedo porque não tava afim de encheção de saco. Alguém tinha deixado um saquinho de jujuba na mesa pra quem quisesse pegar. Fiquei olhando o saquinho e pensando se valia a pena gastar calorias com jujuba quando o fulano chegou e disse, olhando na minha cara: “olha quem já está aqui!” Imediatamente comecei a repetir para mim mesma o mantra “você não vai comprar a provocação dele, você não vai comprar a provocação dele, você não vai comprar a provocação dele” e me acalmei. Sorri e não disse nada, afinal, sou uma dama. Aí ele perguntou, vendo o saquinho na minha mesa:

- De quem esse saquinho de jujuba aqui? (cara de quem ama jujuba)
- A fulana trouxe pra todo mundo, pode pegar se quiser. (sendo civilizada)
- Vou pegar, aceita jujuba? (pegando o saquinho)
- Aceito. (achando que era um sinal de paz)
- Não dou porque a senhora é muito topetuda! (se segurando pra não rir da minha cara)


Aí eu tive que rir, né? Não tinha alternativa.

Chegou o resto da turma e o fulano foi por uma fita (hellooooo, fita!!) pra gente assistir uma palestra de um cara alemão, com tradução simultânea. Deu um pau no equipamento e a tradução simultânea não funcionou de jeito nenhum. E o cara lá, falando alemão pra gente. Quando o fulano viu que não ia ter jeito mesmo, desligou tudo e começou a ladainha (nesta hora eu já estava em cólicas de vontade de rir da cara dele):

- Putz, estas coisas me matam, preparei a aula toda em cima desta palestra e a coordenação me dá uma desta, manda equipamento que não funciona, minha cabeça tá até doendo. Alguém tem uma neosaldina aí?
(silêncio)
- Eu tenho. (pensei em trocar por uma jujuba, mas aí seria muita baixeza da minha parte)
- Só ela que tem, gente, pelo amor de Deus, ela tripudia da minha aula e eu ainda vou ficar devendo uma neosaldina pra ela? Ah, não. Não quero não (rindo), porque uma só não adianta, eu tomo de duas em duas.
- Então você vai ficar me devendo são duas neosaldinas! (tirando a cartela cheia da bolsa)


Achei que tínhamos meio que feito um pacto de paz, né? Afinal, eu tinha salvado a cabeça dele da implosão.

Pois não é que quando fui conferir minhas notas, o fulano tinha me dado exame especial por freqüência?! Ele me deu falta nos dias que atrasei e eu tava em exame especial por uma falta!! Aí fui conferir minha nota, né, porque com um bom aproveitamento eu poderia tentar o abono. Minha nota: NOVENTA E OITO!!! Quer dizer, o fulano, mesmo vendo que tinha tido noventa e oito por cento de aproveitamento me pôs no exame especial!!! Liguei pra coordenação.

- Bom dia, fulana, o senhor (que é pouco mais velho que eu) coordenador está aí? Posso falar com ele? (minuto) Oi, coordenador, tudo bem? Estou conferindo as minhas notas e freqüências e vi aqui que estou em exame especial na disciplina rebimboca da parafuseta por causa de uma falta apesar de ter tido 98% de aproveitamento.
- Ah, então é com você que o fulano anda implicando desta vez!!!


Ou seja, o fulano tem por hobbie atazanar a vida de um aluno por semestre e, adivinhem? Eu era a atazanada da vez!

Problema resolvido, pós-graduação acabada, encontro na rua uma ex-colega de turma que estava trabalhando no departamento que o fulano gerenciava. Perguntei como que ela conseguia trabalhar com um tipinho daqueles, sádico, que se divertia às custas de atazanar as pessoas e ainda tive que ouvir esta: ele é só elogios pra você!

- Aquela Larissa é uma das mulheres mais irrascíveis que já conheci, bocuda mesmo, precisa urgentemente de um relógio, mas tenho que admitir que é uma excelente aluna!

Larissa acha que o fulano é um dos homens mais arrogantes que já conheceu, tem certeza que é o rei da bala chita, precisa urgentemente de um aparelho de DVD, mas tem que admitir que o cara é um excelente professor.

17 fevereiro 2008

Liberdade de Expressão e Otras Cositas Más

Tenho o hábito de observar as pessoas. Fico quietinha, observando seus gestos, caras e bocas, neste ou naquele ambiente, como reagem diante desta ou daquela opinião, através de palavras, gestos ou do silêncio. Isso quando não estou junto com quem observo ou a discussão não me diz assim muito respeito. Quero dizer, quando o assunto pra mim não vale o gasto de ATP´s. Aí eu me expresso pelo silêncio e fico observando. Também me silencio quando sei que a expressão verbal vai ser bombástica. Sou daquelas que dá um boi pra não entrar numa briga, mas uma boiada pra não sair mais dela. Aí, eu prefiro mesmo me poupar pra quando o confronto for inevitável.

Obviamente, nem sempre consigo controlar minha língua com tanta facilidade, mas na maior parte das vezes eu consigo sim (desde que eu queira). O problema é quando eu não quero me conter e acabo falando tudo que penso, usando o sentido das palavras com precisão cirúrgica pra manifestar minhas idéias. Não sou destas que consegue ficar em cima do muro, não dar opinião, me omitir diante do que acontece à minha volta e que influi direta ou indiretamente na minha vida. Pra piorar essa minha compulsão por opinar, parece que tenho conexão direta com algum satélite que me permite prestar atenção em tudo que está acontecendo no ambiente ao mesmo tempo e de participar de tudo simultaneamente. Esta minha conexão satélite chega a chamar atenção de algumas pessoas e irritar outras profundamente. E eu até me divirto com isto.

Quando adolescente, eu tinha uma certa dificuldade de identificar quando a briga era boa, quando valia a pena usar meu arsenal verbal pra matar uma formiguinha quando ignorar já seria suficiente. A maturidade me proporcionou uma visão mais ampla que permitiu fazer a análise custo-benefício do uso das palavras e da expressão de idéias de forma mais eficaz, evitando que eu gerasse traumas e situações, no mínimo, desagradáveis e constrangedoras pra mim e para outras pessoas. Além de formar uma falsa imagem do que eu sou. Costumo chamar este aprendizado de “filtro de sociabilidade”.

Meu filtro de sociabilidade está programado pra entrar em funcionamento sempre que ouço coisas do tipo: “não me interesso por política”, “você sabe com quem está falando?”, “como assim você NÃO quer ter filhos?”, “ah, não gosto muito de livro, não”, “cinema nacional não presta” e coisas congêneres. Aí eu me calo, mas começo a ter urticárias de vontade de responder “é por isto que o mundo está esta merda, “com um bosta que acha que cargo e/ou sobrenome fazem dele algo mais que um simples mortal”, “não é que eu não queira ter filhos, é que eu simplesmente NÃO SUPORTO A IDÉIA de perder minha liberdade”, “compreensível você não gostar de livros diante da sua absoluta incapacidade de assimilar o conteúdo deles”, “não só presta como é premiado, por pessoas que não são culturalmente limitadas como você” e por aí vai.

Ultimamente meu filtro de sociabilidade tem ficado permanentemente em funcionamento, o que significa que tenho ouvido besteiras de forma sistemática. Significa também que uma situação de exceção tornou-se a regra, de forma que meu filtro de sociabilidade vem perdendo a razão de existir. Tive que fazer um ajuste na programação dele, sob pena de desenvolver uma úlcera nervosa. Perguntas como “como assim você NÃO quer ter filhos?” passaram a ser respondidas com “não é que eu não queira, eu queria muito, mas NÃO POSSO ter filhos, apesar de todos os tratamentos que já tentei e não passei no exame psicológico para adoção”. Pronto. O assunto morre imediatamente e o sem desconfiômetro nunca mais te aporrinha. Mas como me manter calada diante de coisas do tipo “sou concursado de tal lugar, mas só vou lá uma vez por semana, emprego toda a minha família no serviço público mesmo enquanto eu for prefeito”, “eu nunca voto, sempre justifico” ou “arrumei uma boquinha no serviço público”? Ajustei meu filtro de sociabilidade para se desligar automaticamente diante deste tipo de situação.

Minha avó dizia que sobre política, futebol e religião não se discute; e que gosto e cu, cada um tem um. Ela que me desculpe, mas não dá pra não discutir política, não dá pra não discutir educação e cultura. Cheguei à conclusão que errei ao manter por algum tempo o filtro de sociabilidade ligado em algumas situações. Há momentos em que não se pode e não se deve calar. Tampouco deixar de promover a defesa de suas idéias. E é o que eu tenho feito. Adoro um debate, adoro uma discussão. Acredito que é assim que se evolui. Principalmente no que concerne às políticas adotadas pelo governo e que influenciam diretamente a vida da população.

É transposição do Rio São Francisco? É a farra dos cartões corporativos? É pôr o Exército na rua pra combater violência? É boicote à tributação? Legalização de drogas, reforma agrária, transgênicos e cotas universitárias? Eu tenho uma opinião bem formada a respeito de tudo isto e vou me manifestar. Quem não concordar que arrume bons argumentos, pois eu não fujo da discussão. Basta uma fundamentação decente que o debate será mais que saudável, será produtivo e eu poderei até mudar de idéia. Mas não me venham com xurumelas, porque eu já estou por aqui de ficar ouvindo besteira dita na minha cara, de tentarem me empurrar goela abaixo os maiores absurdos. E se tem uma coisa que dispara um discurso combativo e, muitas vezes até agressivo, das minhas opiniões é ser tratada como uma imbecil, como uma alienada que desconhece a História do seu próprio país.
Larissa reconhece que às vezes extrapola a combatividade, mas ainda não conseguiu fazer todos os ajustes no seu filtro de sociabilidade: ou se cala, ou se manifesta, correndo o risco de parecer agressiva ou sem educação sem ser de verdade uma coisa, nem outra.

14 fevereiro 2008

Contra o Abuso Sexual Infantil e Adolescente. Em Defesa da Inocência e da Puberdade Saudável.


Eu queria realmente entender o que é que se passa com uma pessoa que tem coragem de abusar da inocência e ingenuidade de uma criança. Pra mim, não existe covardia maior. Infelizmente, a cada dia que passa os jornais nos surpreendem com notícias cada vez mais assustadoras sobre abuso sexual infantil e adolescente. E a covardia anda espalhada pra todo lado, onde menos se imagina.

Tenho um amigo que está com a úlcera quase perfurada, pensando seriamente em vender tudo, morar na praia com a família e abrir uma barraca de côco. Ele conta que enquanto foi advogado, nunca escolheu cliente, nunca disse não a uma causa. Não por falta de escrúpulos, mas sim porque havia feito um juramento e que não cabia a ele julgar –dizia – mas sim garantir que o cliente dele tivesse um processo dentro da lei. Assim, ele acabou defendendo (e dizem que brilhantemente) também casos de violência sexual e, algumas vezes, contra crianças e adolescentes. Sim, dava nojo, mas ele fazia um trabalho “técnico”, falava. Mas quando se tratava de pré-adolescentes e adolescentes, ele acabava se traindo e deixando a gente perceber que ele não acreditava em sedução de adolescente de fins do século XX e do século XXI.

Só que chegou uma hora que ele cansou da advocacia criminal, decidiu que ia passar pro lado de lá da mesa e acabou virando promotor de justiça. A vida tem seus mistérios: ele acabou parando numa vara criminal onde havia muitos casos de estupro e atentado ao pudor. Mas continuava não acreditando muito em abuso sexual de adolescentes quando o caso era de presunção legal. Falava que uma menina de 13 anos dos dias de hoje sabe exatamente o que está fazendo quando decide se relacionar com um homem.

Só que ele teve filhas, gêmeas, duas menininhas lindas, por sinal e um dia acabou me confessando que, na medida em que as meninas iam crescendo, o medo dele ia aumentando. No início, ele temia porque elas eram muito pequenas e criança aceita picolé, chocolate e chiclete de qualquer um se os pais não estão atentos. As meninas pareciam bebês de comercial de fralda de tão lindas e acabavam chamando muita atenção das pessoas. Então ele ficava sempre atento com estranhos que se aproximavam delas quando ele e a mulher estavam vigiando as duas de longe.

Aí, continuou meu amigo, as meninas cresceram, foram começando a virar mocinhas e eu comecei a perceber que, aos quinze anos, embora elas realmente já estivessem com o corpo em um estágio relativamente avançado de maturidade, esta maturidade não se refletia nas ações delas. E era isso que dava medo nele. As meninas, já mocinhas de quinze anos, se achavam as mulheres mais poderosas da face da Terra. Achavam que já tinham condição de decidir a direção da vida delas e brigavam muito com os pais por causa disso, atitude tipicamente adolescente. E algumas vezes elas saíram escondido e voltaram tarde pra casa, enquanto ele e a mulher se desesperavam ligando pros pais dos colegas, indo nos lugares onde elas poderiam estar e rezando pedindo a Deus que nada de mal lhes acontecesse. Ele disse que não conseguia parar de pensar nos casos que ele via diariamente no trabalho e sofria só de pensar que elas podiam ser vítimas de violência.

Ele havia se convencido de que eu não estava brincando: um adolescente, menino ou menina, se acha o dono do mundo, mas não é; e mesmo que tenha domínio sobre seu corpo, que saiba tecnicamente o que está fazendo, não tem maturidade, nem discernimento pra pensar nas conseqüências das suas decisões, independentemente de quais sejam estas decisões.

Esta conversa com meu amigo me marcou muito. Eu tenho, e sempre tive uma repulsa, um horror, especiais quando o assunto é violência sexual. Se envolve criança e adolescente então, pior ainda. Só que vejo pessoas saindo em defesa dos idosos (sim, creiam-me, há os que praticam violência sexual contra idosos), das mulheres adultas, das crianças, dos homossexuais, mas quando se trata de abuso sexual adolescente (presumido por lei), principalmente se a vítima é menina, sempre há questionamento antes, durante e depois da defesa se o caso era realmente de abuso ou se houvera consentimento.

Ouço pessoas dizendo que atualmente as meninas de doze anos já são mulheres feitas. Aonde? Porque o que eu vejo, é que, hoje, realmente as meninas de doze anos estão com o corpo bastante desenvolvido se compararmos com as meninas de doze anos de trinta anos atrás, vestem-se como se fossem adultas, agem como se fossem adultas, mas não estão definitivamente preparadas emocionalmente para assumir os riscos e conseqüências de uma vida adulta. Cadê as meninas-mulheres-feitas? Não existem, creio eu. Correm pra casa chorando quando alguma coisa ou alguém as magoa e pedem o colo dos pais. E quem se aproveita da inexperiência adolescente, pela qual todos nós passamos, pra se satisfazer é um covarde que usa uma imagem que ele mesmo sabe não representar a realidade como desculpa esfarrapada e vergonhosa pra abusar sexualmente de quem ainda não tem discernimento pra tomar determinadas decisões.

É por isso que eu saio em defesa das vítimas de abuso sexual, mas principalmente dos adolescentes, porque justamente a confusão hormonal pela qual eles naturalmente passam os torna mais vulneráveis e mais difíceis de proteger de quem só quer se satisfazer às custas da fragilidade deles.

Larissa aderiu à blogagem coletiva contra a pedofilia na última hora porque só agora ficou sabendo do movimento. Já denunciou e vai continuar denunciando sempre, mesmo que isto nunca acabe e mesmo que às vezes sinta que sua luta é inglória, porque a proteção de uma única criança ou adolescente já vai valer esta briga toda.

13 fevereiro 2008

Loucura, Esquizofrenia e Mau Caratismo: Tudo em Cena de Uma Só Vez

Usa-se muito a palavra loucura quando se acha que alguém agiu de forma que o senso comum não recomendaria – tipo sair gritando as pessoas pela rua – ou quando se teve coragem de soltar as amarras e, por exemplo, não se aceitou emprego num país de desempregados, terminou-se um namoro morno e se mudou pra outro país sem nem conhecer a língua. Há várias outras palavras que poderiam ser empregadas ao invés de louco. Quem grita as pessoas pela rua ou está bêbado ou desesperado ou surpreso ou é sem educação mesmo. Tecnicamente não se caracteriza loucura. Quem recusa um emprego, larga o namoro mais ou menos e se arrisca em outro país pode ser corajoso, arrojado, irresponsável, depende do ponto de vista de quem está avaliando. Mas tecnicamente também não se caracteriza loucura. Loucura é a qualidade ou o estado do louco, que pode ser aquele que perdeu a razão, o que está apaixonado, o brincalhão ou o furioso. Mas a loucura não é um estado necessariamente permanente. Quem nunca fez loucuras? Quem nunca se apaixonou, nunca brincou ou nunca se enfureceu? Eu, graças a Deus, tenho meus momentos de loucura. Saio às vezes na rua cantando em alto e bom som, dou gargalhadas por nada, me enfureço com buracos na estrada, sou uma mulher apaixonada. Louco é quem nunca cometeu uma loucura.

Mas há os “loucos” patológicos, a quem a medicina e a psicologia dão outros nomes. Dentre eles, há os esquizofrênicos. Esquizofrenia, de origem grega, significa mente dividida; a dissociação que existe entre o pensamento da pessoa e a realidade a sua volta. Esquizofrênicos criam um mundo paralelo à partir de um fato real. Conseguem elaborar conspirações fantásticas, exercem um papel importantíssimo nas tais conspirações, são o centro das atenções, porém, de uma realidade que só existe na cabeça deles. Quem não se lembra de John Nash, matemático norte-americano vencedor do prêmio Nobel de Economia? Nash teve uma vida sofrida e provocou muito sofrimento para sua família, mas nunca prejudicou ninguém. Não que eu tenha conhecimento, já que biografias autorizadas e filmes-homenagem não costumam contar os podres dos protagonistas. Mas há os esquizofrênicos não diagnosticados e estes sim podem provocar muito dano às pessoas à sua volta. Mesmo que todos percebam sua “loucura”, e dêem gargalhadas de suas teorias conspiratórias, sempre há alguém prejudicado pelas manifestações do esquizofrênico. E se para muitos os atos do esquizofrênico são motivo de riso, pro alvo da esquizofrenia não há nada de engraçado. No início, dá tristeza; depois dá pena. Esta loucura é doença, não tem cura e nem sempre o tratamento dá resultado. Definitivamente, não faz rir, nem cantar. Mas traz prejuízo, no mínimo emocional. E amigos meus estão passando por isto agora por terem convivido com um esquizofrênico não diagnosticado.

Há ainda quem chame – equivocadamente, na minha opinião – os portadores de transtorno bipolar também de “loucos” patológicos. Que a bipolaridade é um distúrbio, não duvido. Mas daí a ser louco patológico acho que tem uma distância. Convivo com algumas pessoas que têm a bipolaridade dignosticada (embora também seja difícil o diagnóstico, já que muitas patologias têm características em comum com a bipolaridade e a esquizofrenia) e todos eles seguem o tratamento. Nada impede que exerçam suas atividades, ninguém nem diria que são portadoras de sofrimento mental. Porém, os bipolares não diagnosticados podem trazer sérios problemas para si e para os outros. A alternância de humor pode levar o bipolar a agir de forma como nunca agiria e ninguém entende porque num dia a pessoa está eufórica e no outro está deprimida, chorando no canto da sala. Como o humor é inconstante, as pessoas taxam o bipolar de louco ou dizem “fulano é assim mesmo, instável, esquece que ele te xingou à toa, que gritou com você, releve, seja um espírito elevado”.

E a trouxa aqui foi relevando, relevando, relevando. Chegou a pensar que estava convivendo com um portador de transtorno bipolar mas, ao final, percebeu que alternância de humor, instabilidade, doença, loucura e mau caratismo não se confundem. E o que eu fui relevando, relevando, relevando, sempre após desculpas esfarrapadas de que “não estou numa boa fase...”, “precisamos pensar no grupo e não individualmente”, “ah, vai ter que dar!”, “o que é que você espera de mim às 15:00h!”, “preciso ir ao médico, não estou bem...” foi se mostrando um eficaz instrumento para manipular situações e pessoas até conseguir o que queria. Esquizofrenia, talvez? Também não. Mas sim um exemplo de mau caratismo. Aí você começa a analisar fatos passados e fica chocada: como é que não percebeu isto antes? Era tão evidente a prepotência, o autoritarismo, o orgulho, a soberba, o egoísmo, o individualismo e tantos outros ismos que não quero nunca ter como predicados!

E agora, mais esta! Achei que tinha ficado livre do mau caráter (e azar o dele se ele também é bipolar ou esquizofrênico), mas não. Ele volta à cena por meio de subterfúgios. Precisa de mim, mas o orgulho e a soberba, embora não o impeçam de ver isto nitidamente, o impedem de fazer uma simples ligação, enviar um e mail e resolver o problema. Na realidade, nem precisa. Pode resolver sozinho. Mas pra isso gastaria tempo e o tempo do mau caráter vale mais que o dos outros. Além do mais, o mau caráter autoritário gosta de mandar, gosta de sentir que manda e os outros obedecem. Então usou outra pessoa pra me mandar fazer uma coisa que eu não tenho obrigação nenhuma de fazer por conhecer o vínculo que me une a esta pessoa. Mas desta vez o mau caráter vai quebrar a cara. Porque a pessoa que ele acha que eu respeito acima de muita coisa, por quem eu até faria o que foi indiretamente ordenado sem nem questionar, também vem, há algum tempo, se mostrando, de forma mais inteligente, lenta e sutil, um outro mau caráter. E pessoas de mau caráter não são dignas de respeito, nem de consideração. Vai dizer de obediência!!

Espere sentado, mau caráter, o cumprimento de sua ordem. Porque ordens, quando já não há mais hierarquia, são cumpridas como favor, por respeito, não por temor ou sentimento de dívida. E eu não vou te fazer este favor não porque eu não te respeite ou não te tema mais, como você pensa e gosta de pensar. Eu não vou te fazer este favor é porque de fato eu nunca te temi, muito menos te respeitei!!


Larissa está chocada com os absurdos de que as pessoas são capazes, como inventar coisas e provocar prejuízo às pessoas, amoralmente ou inventar a mesma coisa, por mau caratismo, imoralmente. E ainda dizem que a louca é ela, que canta em voz alta na rua e no chuveiro!!

11 fevereiro 2008

Acordei bem, dormi com barulho

Acordei bem

Hoje (ontem, dia 10) eu acordei com o telefone azucrinando minha vida. Sabe quando você tá sonhando que conseguiu pegar aquele brigadeiro gigante (que sempre evaporava nas suas mãos) e tá enfiando ele inteiro na boca e acorda antes de sentir o gosto? Foi assim que eu acordei.

- Alô!, falei, mau humorada.

- Oi, Larissa, é o Genilson (*). Te acordei?

- Ahnnn... mais ou menos, Genilson (constrangida ao ver que já era quase meio-dia); faz o seguinte: vou acabar de acordar, lavar a cara e te ligo daqui a pouco, pode ser?

- Não precisa, só liguei pra te contar que eu passei no vestibular da Federal pra Medicina.

Sabe quando você está sonhando e justamente quando o tubarão vai te pegar e te fazer em pedacinhos e mastigar com aqueles dentes afiadíssimos você acorda nos braços do Wolverine de sunguinha vermelha? Acabei de acordar assim!!

- Ai, que bênção, Genilson!! Vamos sair pra comemorar!! Parabéns!!

Sabe, toda vitória é especial, mas a do Genilson é mais ainda. Conheci o Genilson no serviço voluntário. Eu era voluntária e ele era detento. Estava cumprindo pena por tráfico de drogas e roubo. Era viciado em cocaína. Largou a droga. Cumpriu a pena. Nesse meio tempo, voltou a estudar. E agora vai fazer Medicina!! Que orgulho de ter incentivado meu amigo – sim, ele se tornou um amigo – a mudar de vida!!

Levantei, tomei um banho e fiquei cantarolando até ouvir uma que me deixou passada.

*******************************

Dormi Com Esse Barulho

Fui prum churrasco e lá, naquela difícil vida de piscina, cerveja e picanha com os amigos, ouvi um comentário de que o pai do fulano não aceitava que ele fosse amigo do Pedro (*) porque o Pedro era preto. Meus olhos quase saltaram das órbitas. Primeiro porque o Pedro tem que tomar muito sol na moleira pra poder ser tecnicamente chamado de preto. Segundo porque ainda que ele fosse preto igual jabuticaba isso não é critério pra definir quais são as boas amizades. Terceiro: puta que pariu que eu pensava que isso já tinha virado coisa de novela!! Quando externei meu puta que pariu, ouvi do Pedro:

- Lalá, se eu te contar que isso existe e muito você não vai acreditar. Outro dia minha sobrinha chegou lá em casa chorando aos cântaros. Perguntamos pra ela o que tinha acontecido e ela respondeu que não queria mais ser pretinha (eles a chamam carinhosamente de Pretinha, a menina é linda, tem cinco anos, parece uma indiazinha, cabelo lisinho, preto, uma tetéia), que queria ser branquinha, ter olhos azuis e cabelo lourinho de cachos, igual princesa pra ela poder ir à festinha de aniversário da colega de turma.

Desta vez meus olhos não saíram das órbitas, mas ficaram vidrados. Que tipo de gente é esta que faz isto com uma criança?!! A mãe da tal coleguinha de sala não convidou a sobrinha do Pedro pra festinha porque a menina na concepção daltônica dela é preta. E como é que se explica pra uma criança que é melhor nem conviver com gente que acha que a cor da pele – ou a religião, nacionalidade, orientação sexual, e por aí vai – não servem de critério pra se verificar nada de nada? Como é que se explica pra uma criança de cinco anos que o mundo ainda tá coalhado de espírito de porco? Fui dormir ontem pensando na menininha. Isto aconteceu ontem e até agora não consegui parar de pensar nisso. Como é que pode, meu Deus?


(*) Nomes fictícios pra preservar a identidade dos amigos.

Larissa está muito, muito feliz pela conquista do seu amigo e sabe que ele ainda vai enfrentar muitos preconceitos pelos erros que cometeu. Mas está muito triste por saber que uma criança já está sentindo na pele um preconceito que achava estar acabando.

08 fevereiro 2008

Carnaval, salut!!

A ansiedade já não cabia mais em mim. O tempo passava e nada de chegar o carnaval. Mas finalmente chegou o grande dia. Era hora de fazer as malas.

Tem gente que consegue recarregar as baterias com um simples virar de ano. Reveillon e aquela coisa toda. Eu não. O carnaval sempre marcou a minha virada de ano. Cinco dias de folia cansam fisicamente, mas me deixam muito, muito leve. Pronta pra recomeçar. Como se minhas baterias fossem trocadas. Férias emocionais.

O carnaval deste ano foi diferente. Mas nem por isto deixou de me renovar. Houve surpresas desagradáveis. Mas também houve boas surpresas. Se por um lado algumas pessoas mostraram um lado ruim que eu não conhecia, por outro descobri que não houve decepção da minha parte. Eu simplesmente constatei algo que intimamente eu parecia já conhecer e decidi que aquilo não vai mais fazer parte da minha vida. É claro que rolou um stress básico, ver que fiquei me enganando com as atitudes alheias não foi bom. Mas foi bom conseguir ver, analisar e decidir se queria ou não continuar convivendo com aquelas atitudes. Não, definitivamente, eu não quero. Estou cansada de pessoas que só conjugam verbos na primeira pessoa do singular.

E por ter me afastado um pouco destas pessoas durante o carnaval, eu acabei convivendo mais com outras, que eu acabava relegando pra um segundo plano. Surpresa boa: encontrei pessoas amáveis, receptivas e generosas. Pessoas que sorriram de volta gratuitamente quando eu sorri. O mais engraçado é que eu sempre convivi com estas belas pessoas, mas nunca tinha me dado conta do quão especiais elas são. Desta vez eu me surpreendi. E fiquei muito feliz com a surpresa.

O melhor de tudo é que esta renovação aconteceu justamente no meu momento de catarse. Aconteceu num momento em que eu estava receptiva a mudanças, com a energia renovada, alegre, feliz, pulando, cantando e dançando a vida em carnaval. Tomei chuva, pisei no chão sujo, mergulhei no mar, me esfolei na areia, tomei vento na cara e queimei os pés de tanto dançar na Sapucaí. Abracei e fui abraçada; beijei e fui beijada. E sempre cercada de pessoas especiais. Ou que foram especiais um dia.

Bem, algumas não são mais especiais. Mas não tem problema: era hora da renovação. Uns vão, outros vêm, poucos permanecem. É assim que funciona. Neste carnaval alguns se foram (se bem que acho que fui eu quem os mandou embora), e também encontrei quem permaneça. Valeu a pena, carnaval. Mais uma vez, valeu.

E aos que até hoje permanecem, pierrots e colombinas, um brinde à vida!!


Larissa está soft, soft, soft de tanto pular carnaval. Está com as baterias recarregadas e torce pra elas durarem até o próximo carnaval, até a próxima renovação.