17 fevereiro 2008

Liberdade de Expressão e Otras Cositas Más

Tenho o hábito de observar as pessoas. Fico quietinha, observando seus gestos, caras e bocas, neste ou naquele ambiente, como reagem diante desta ou daquela opinião, através de palavras, gestos ou do silêncio. Isso quando não estou junto com quem observo ou a discussão não me diz assim muito respeito. Quero dizer, quando o assunto pra mim não vale o gasto de ATP´s. Aí eu me expresso pelo silêncio e fico observando. Também me silencio quando sei que a expressão verbal vai ser bombástica. Sou daquelas que dá um boi pra não entrar numa briga, mas uma boiada pra não sair mais dela. Aí, eu prefiro mesmo me poupar pra quando o confronto for inevitável.

Obviamente, nem sempre consigo controlar minha língua com tanta facilidade, mas na maior parte das vezes eu consigo sim (desde que eu queira). O problema é quando eu não quero me conter e acabo falando tudo que penso, usando o sentido das palavras com precisão cirúrgica pra manifestar minhas idéias. Não sou destas que consegue ficar em cima do muro, não dar opinião, me omitir diante do que acontece à minha volta e que influi direta ou indiretamente na minha vida. Pra piorar essa minha compulsão por opinar, parece que tenho conexão direta com algum satélite que me permite prestar atenção em tudo que está acontecendo no ambiente ao mesmo tempo e de participar de tudo simultaneamente. Esta minha conexão satélite chega a chamar atenção de algumas pessoas e irritar outras profundamente. E eu até me divirto com isto.

Quando adolescente, eu tinha uma certa dificuldade de identificar quando a briga era boa, quando valia a pena usar meu arsenal verbal pra matar uma formiguinha quando ignorar já seria suficiente. A maturidade me proporcionou uma visão mais ampla que permitiu fazer a análise custo-benefício do uso das palavras e da expressão de idéias de forma mais eficaz, evitando que eu gerasse traumas e situações, no mínimo, desagradáveis e constrangedoras pra mim e para outras pessoas. Além de formar uma falsa imagem do que eu sou. Costumo chamar este aprendizado de “filtro de sociabilidade”.

Meu filtro de sociabilidade está programado pra entrar em funcionamento sempre que ouço coisas do tipo: “não me interesso por política”, “você sabe com quem está falando?”, “como assim você NÃO quer ter filhos?”, “ah, não gosto muito de livro, não”, “cinema nacional não presta” e coisas congêneres. Aí eu me calo, mas começo a ter urticárias de vontade de responder “é por isto que o mundo está esta merda, “com um bosta que acha que cargo e/ou sobrenome fazem dele algo mais que um simples mortal”, “não é que eu não queira ter filhos, é que eu simplesmente NÃO SUPORTO A IDÉIA de perder minha liberdade”, “compreensível você não gostar de livros diante da sua absoluta incapacidade de assimilar o conteúdo deles”, “não só presta como é premiado, por pessoas que não são culturalmente limitadas como você” e por aí vai.

Ultimamente meu filtro de sociabilidade tem ficado permanentemente em funcionamento, o que significa que tenho ouvido besteiras de forma sistemática. Significa também que uma situação de exceção tornou-se a regra, de forma que meu filtro de sociabilidade vem perdendo a razão de existir. Tive que fazer um ajuste na programação dele, sob pena de desenvolver uma úlcera nervosa. Perguntas como “como assim você NÃO quer ter filhos?” passaram a ser respondidas com “não é que eu não queira, eu queria muito, mas NÃO POSSO ter filhos, apesar de todos os tratamentos que já tentei e não passei no exame psicológico para adoção”. Pronto. O assunto morre imediatamente e o sem desconfiômetro nunca mais te aporrinha. Mas como me manter calada diante de coisas do tipo “sou concursado de tal lugar, mas só vou lá uma vez por semana, emprego toda a minha família no serviço público mesmo enquanto eu for prefeito”, “eu nunca voto, sempre justifico” ou “arrumei uma boquinha no serviço público”? Ajustei meu filtro de sociabilidade para se desligar automaticamente diante deste tipo de situação.

Minha avó dizia que sobre política, futebol e religião não se discute; e que gosto e cu, cada um tem um. Ela que me desculpe, mas não dá pra não discutir política, não dá pra não discutir educação e cultura. Cheguei à conclusão que errei ao manter por algum tempo o filtro de sociabilidade ligado em algumas situações. Há momentos em que não se pode e não se deve calar. Tampouco deixar de promover a defesa de suas idéias. E é o que eu tenho feito. Adoro um debate, adoro uma discussão. Acredito que é assim que se evolui. Principalmente no que concerne às políticas adotadas pelo governo e que influenciam diretamente a vida da população.

É transposição do Rio São Francisco? É a farra dos cartões corporativos? É pôr o Exército na rua pra combater violência? É boicote à tributação? Legalização de drogas, reforma agrária, transgênicos e cotas universitárias? Eu tenho uma opinião bem formada a respeito de tudo isto e vou me manifestar. Quem não concordar que arrume bons argumentos, pois eu não fujo da discussão. Basta uma fundamentação decente que o debate será mais que saudável, será produtivo e eu poderei até mudar de idéia. Mas não me venham com xurumelas, porque eu já estou por aqui de ficar ouvindo besteira dita na minha cara, de tentarem me empurrar goela abaixo os maiores absurdos. E se tem uma coisa que dispara um discurso combativo e, muitas vezes até agressivo, das minhas opiniões é ser tratada como uma imbecil, como uma alienada que desconhece a História do seu próprio país.
Larissa reconhece que às vezes extrapola a combatividade, mas ainda não conseguiu fazer todos os ajustes no seu filtro de sociabilidade: ou se cala, ou se manifesta, correndo o risco de parecer agressiva ou sem educação sem ser de verdade uma coisa, nem outra.

7 comentários:

Anônimo disse...

Vim agradecer a visita e dizer que vc pode contar comigo pra colocar a boca no mundo!
Voltarei sempre e volte a me visitar tb.
Bjos.

Sisa disse...

Eu sempre justifico. Não, isso não é uma opção minha, você sabe. Mesmo assim, mesmo sabendo que provavelmente vou precisar justificar, eu pesquiso os candidatos, analiso e formo minha opinião, se é que isso é consolo...

Mia disse...

Gostei bastante do seu blog!
Voltarei sempre e vou favoritar lá no meu também!
Beijo e volte sempre!Obrigada pela visita!

Luiz Santilli Jr disse...

Olá Larissa.

Já começa com um lindo nome!
Depois se declara uma lutadora pelas boas causas!
Depois uma língua incontrolável, como a minha!
Então fui gostando do perfil!
Também falo tudo o que penso, quem não gostar mude de canal!
Não tenho religião, não suporto a fé, só aceito o conhecimento comprovado pela razão!
Lenga lenga comigo não tem vez!
Ou você prova, pau pau, pedra pedra, ou estou fora!
Mas tenho muita fé na honestidade, na ética, na amizade, no amor entre pessoas, independente do sexo!
Vou linkar você no BOA LEITURA, na seção Blogs Amigos.
Se tiver tempo leia também CRÔNICAS, meu blog de opinião!
Ah! Larissa, sou também escritor!
Meu livro FatorJ, fala de Jesus homem, mais personagem literário do que um deus, talves nem tenha existido!
Sou também explosivo...
Abraço
Luiz

Luiz Santilli Jr disse...

Larissa

Já linkei seu blog!
Acho que teremos muitas idéias a trocar.
Vim, vi e gostei!
Vou vir sempre e comentar!
Blogs são para isso!
E como dizia Nelson Rodrigues: "toda unânimidade é burra!"
Abraço
Luiz

Anônimo disse...

Larissa, vim conhecer e gostei da clareza e da firmeza.
Obrigada pelo link, vou retribuí-lo com prazer.
Beijos.

Luma Rosa disse...

Larissa, você tem excelente gosto musical! :=))) Algumas pessoas são tão radicais em permanecer na ignorância que o melhor mesmo é desviar o foco, ouvindo música! (rs*) Deixei recadinho lá embaixo!! Beijus