09 abril 2008

Solidão

Pouquíssimas vezes na minha vida me senti só. Meu problema sempre foi exatamente o contrário. Muitas vezes precisei ficar sozinha, mas não deixaram. E de tanto ninguém me deixar ficar um pouco sozinha, acabei deixando de perceber quando precisava me isolar e ficar comigo mesma por um tempo.

A duras penas retomei as rédeas da minha vida. Pelo menos dentro da minha cabeça. Andei ficando sozinha meio que na marra. Tive que me afastar um pouco das pessoas, mesmo das que eu mais amo. Foi difícil, mas acho que valeu a pena. Parei, refleti, tomei decisões. Infelizmente não sobre o que eu quero, mas pelo menos sobre o que não vou fazer da minha vida. E já acho isto um grande progresso. Aí voltei ao convívio com as pessoas. Voltei melhor, meio perdida, mas com certeza mais feliz. Abdiquei novamente da solidão.

Mas esta semana estou só. E estou passando por uma experiência que tem me feito ter certeza de que eu soube definir bem minhas prioridades de vida. Decidi viver plenamente ao invés de me proteger o tempo inteiro desde muito nova. Tenho dúvidas se foi mesmo uma escolha consciente. Tenho dúvidas sequer se foi uma escolha. Na realidade, nunca tive medo de quebrar a cara. Eu acreditava que este medo ia acabar surgindo com o passar do tempo. Descobri que até hoje este medo não surgiu em mim. Estou à beira dos trinta e um anos e feliz de verdade por ter escolhido viver uma história que tem rendido muito mais bons do que maus momentos. Escolhi não viver sozinha.

Desde que me casei, estou sozinha em casa pela primeira vez. Aliás, minto. É injusto dizer que fiquei sozinha tendo um cachorro atrás de mim cem por cento do tempo em que estou dentro de casa. Mas é diferente. Reconheço o valor da amizade canina, mas é diferente. Bem, o fato é que, então, mesmo com um rabo que balança incessantemente na minha frente buscando minha atenção, eu me senti pela primeira vez na vida muito só.

Comecei a preencher meu tempo livre assistindo filmes. E assisti A Dona da História hoje pela milésima vez. Um diálogo entre presente e futuro me chamou especialmente a atenção hoje, na cena em que se encontram no camarim do teatro:

- Você trocaria tudo isso pelo amor da sua vida?

- E você? Trocaria?

Eu?! Não!! Eu não troco, não!! Nem no presente, nem no futuro. O tempo verbal já diz tudo: futuro do pretérito, o que nunca vai acontecer, vai ser sempre uma hipótese. Eu não troco o amor da minha vida, que eu já encontrei, por nada. Eu não troco ter quem me espere chegar, ter a quem esperar chegar, por nada neste mundo. E nestes dias, que eu cheguei sem ter quem me esperasse, que eu não tive a quem esperar, cheguei a achar que havia descoberto o que é solidão de verdade.

Mas não havia, não. O telefone toca, fico feliz. Não é a primeira vez no dia e tenho certeza de que também não será a última. A voz do outro lado da linha faz com que eu deixe de me sentir só. Sinto um abraço e um beijo. E ao desligar o telefone, vejo que o que eu estou sentindo não é solidão. O que eu estou sentindo é saudade. E esta saudade vai passar. Então eu soube o que é sentir-se só de verdade. Solidão é não ter alguém a quem esperar, é não ter alguém te esperando no sofá; solidão é não ter nem um telefone pra esperar tocar.


Larissa está quase morrendo de saudades do seu marido, mas não se arrepende de não estar junto com ele agora. Sabe que mais forte que a tristeza de deixar partir é a alegria de ver voltar.

2 comentários:

Mia disse...

Saudade é bicho ruim, viu?!
Parasita intracelular obrigatório!

=)

=*

Angel disse...

Saudade incomoda, né!

E quando se tem certeza de que o telefone não vai tocar...!!??

Pois é, eu já me acostumei com a minha solidão. Às vezes,como agora, ela fica forte e traz a carência. Mas passa, devagarzinho, mas passa.

Adorei o texto!

Beijos!